Criticar os liberais é belo mas a realidade é complicada
Escreve Vasco Pulido Valente, n'O Espectro:Em percentagem do PIB, a sra. Thatcher aumentou, não diminui, a despesa com o Estado-Previdência. E não aumentou pouco, aumentou muito.
O problema deste post de VPV é, desde logo, que está factualmente errado. Independentemente da (duvidosa) legitimidade da conclusão retirada dos factos apresentados, o argumento cai pela base porque assenta em dados incorrectos.
Comparando 1979 com 1990, a despesa com o Estado-Previdência em percentagem do PIB sob o governo da sra. Thatcher não só não aumentou como até diminuiu ligeiramente. A despesa pública total em percentagem do PIB caiu e carga fiscal em percentagem do PIB aumentou ligeiramente (tendo a dívida pública em percentagem do PIB sido substancialmente reduzida).
Infelizmente, é comum entre nós lermos e ouvirmos análises sobre estas matérias (muitas vezes inclusivamente feitas por economistas...) que simplesmente não encontram sustentação nos factos. Conclusão? O liberalismo é belo, mas não é fácil ser liberal em Portugal.
Adenda: Este post dedica-se também ao ENP. Se é isto o que podemos esperar da tão falada "renovação da direita portuguesa", os (poucos, embora mais do que no passado) liberais portugueses farão melhor em apoiar o PS do Eng. Sócrates ou simplesmente ignorar os partidos. Para direita "evasiva" e "comedida", já chega o desastre do passado recente.
Para mais dados, recomendo a leitura atenta do estudo Thatcherism, New Labour and the Welfare State, do insuspeito John Hills. ###The story is not that of the continuous rolling back of the welfare state which many of the Conservative’s opponents might have portrayed at the time – or indeed, which its supporters might have hoped for on its election. The balance of welfare spending changed between services – towards health and social security at the expense of housing and education – but the overall total remained at or around a quarter of national income.
(...)
First, overall public spending has been reduced in relation to national income since it nearly reached 50 per cent in 1975-76. Welfare spending has, however, formed a steadily rising share – now making up two-thirds of all public spending. Other sectors proved easier to cut, and capital spending was one of the main casualties.
Second, the restrictions of public spending began not in 1979, but in 1976 under the then Labour government. As far as welfare spending is concerned, 1976-77 marked the end of the post war growth in its share of national income. The lid went on spending when the IMF came to visit, not when Mrs Thatcher was elected.
(...)
At the same time there were ways in which the generosity of welfare provision clearly was cut back under the Conservatives. Most importantly, in the early 1980s the link – in some cases established by statute law, in others simply convention – between the value of social security benefits like the flat rate “basic” state pension and measures of other incomes or earnings was broken. Instead of cash benefits rising with national prosperity at times of economic growth, they are now generally increased each year in line with price inflation. Their value has therefore been steadily falling in relation to the incomes of those at work.
por André Azevedo Alves @ 1/31/2006 04:40:00 da tarde
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