Forbidden colours
Paolo di Canio é um dos melhores futebolistas da última década. Depois de várias temporadas nos campeonatos escocês e inglês, regressou a Itália e ao seu club d'il cuore: a Lazio. No final do jogo do último fim de semana, que opôs a Lazio ao Livorno, di Canio despediu-se dos adeptos fazendo a saudação romana — a habitual saudação fascista.
Está agora sujeito a um inquérito da FIGC (a federação italiana de futebol), acusado de racismo por colegas de equipa e de anti-semitismo pela comunidade judaica italiana. Paolo di Canio não negou o significado político do gesto, já foi multado em duas ocasiões anteriores por gestos semelhantes e nunca escondeu a sua admiração política por Mussolini.###
Não me espanta nem me incomoda que um jogador seja responsabilizado pelas instituições desportivas por gestos de natureza claramente política no decurso de eventos desportivos, sejam eles quais forem. Acho normal que colegas de equipa e associações cívicas reajam.
O que me incomoda é a assimetria com que gestos e comportamentos desta natureza tendem a ser tratados: a indignação e o teor das acusações em resposta ao gesto de Paolo di Canio contrastam com o silêncio e a condescendência sobre o comportamento da claque do Livorno, que “brindou” os jogadores da Lazio com cânticos comunistas e punhos erguidos —a habitual saudação comunista. O Livorno foi multado em 20000€ mas porque um adepto não identificado lançou uma tocha contra o autocarro da Lazio antes do jogo.
A saudação romana despoletou um coro ululante de acusações de “fascismo” e a inscrição “Dux” que di Canio ostenta tatuada no braço foi imediatamente invocada como a “prova do herege”. Ao mesmo tempo considera-se “normal”e até “giro” que diversos jogadores ostentem tatuagens com a efígie de um criminoso como Che Guevara. Estas reacções são manifestações superficiais de duas opiniões, perigosamente falsas e frequentes na generalidade dos países da Europa ocidental.
A primeira é uma atitude generalizada de relativização dos crimes contra a humanidade cometidos em nome das utopias de esquerda, que vai ao ponto de ocultar a raiz historicista comum dos totalitarismos nazi e comunista. O historiador Niall Ferguson relembrava recentemente, a propósito dos disparates anti-americanos de Harold Pinter:“[T]he lowest estimate for the number of people who were killed on political grounds in the last seven years of Stalin's life is five million, and the camps of the gulag - which only a fraud or a fool would liken to American prisons today - kept on killing long after his death. In their new biography, Jung Chang and Jon Halliday reckon Mao was responsible for anything up to 70 million deaths in China. The number of people killed or starved by the North Korean regime may be in the region of 1.6 million. The Khmer Rouge in Cambodia killed between 1.5 and 2 million people. For further details, I refer Pinter to The Black Book of Communism, published in 1997.”
A segunda é uma incompreensível inconsistência lógica na repressão e censura generalizada do que se relaciona ou é evocativo do totalitarismo nazi e do autoritarismo fascista. É que, convenientemente ausente desta fúria censória, fica um “ismo” crucial: o islamismo.
Será por ignorância que a influência directa que o nazismo e o fascismo tiveram na emergência do terrorismo islâmico é sistematicamente esquecida? Se é resolve-se facilmente. Basta ler “Terror, Islam and Democracy”, um artigo fundamental para se compreender o terrorismo islâmico, em particular este excerto:“The idea of a “pan-Islamic” movement appeared in the late nineteenth and early twentieth centuries concomitantly with the rapid transformation of traditional Muslim polities into nation-states. The man who did more than any other to lend an Islamic cast to totalitarian ideology was an Egyptian schoolteacher named Hassan al-Banna (1906–49). Banna was not a theologian by training. Deeply influenced by Egyptian nationalism, he founded the Muslim Brotherhood in 1928 with the express goal of counteracting Western influences.
Em Outubro deste ano, a comemoração do bicentenário da morte do almirante Nelson e da batalha de Trafalgar teve como evento central uma “reencenação” da batalha histórica. As frotas “beligerantes”, onde se incluíam diversos navios cedidos pelas armadas espanhola e francesa, foram convenientemente rebaptizadas de “encarnada” e “azul” para não recordar aos convidados a tremenda derrota militar. Neste terreiro de fantasia demencial, pós-histórica e pós-religiosa, outrora conhecido por Europa, a maioria dos políticos tudo faz para apagar a identidade dos europeus, inventando um passado que nunca existiu para evitar desconfortos no presente, em nome de um futuro que julgam “conveniente”. A persistente mediocridade dos governantes europeus, com os seus exércitos de fingir em tons azuis e encarnados, fará com que cada vez mais europeus, tal como Paolo di Canio, renovem o seu interesse pelas políticas associadas ao “preto e ao castanho".
By the late 1930s, Nazi Germany had established contacts with revolutionary junior officers in the Egyptian army, including many who were close to the Muslim Brothers. Before long the Brothers, who had begun by pursuing charitable, associational, and cultural activities, also had a youth wing, a creed of unconditional loyalty to the leader, and a paramilitary organization whose slogan “action, obedience, silence” echoed the “believe, obey, fight” motto of the Italian Fascists. Banna’s ideas were at odds with those of the traditional ulema (theologians), and he warned his followers as early as 1943 to expect “the severest opposition” from the traditional religious establishment.
From the Fascists—and behind them, from the European tradition of putatively “transformative” or “purifying” revolutionary violence that began with the Jacobins—Banna also borrowed the idea of heroic death as a political art form. Although few in the West may remember it today, it is difficult to overstate the degree to which the aestheticization of death, the glorification of armed force, the worship of martyrdom, and faith in “the propaganda of the deed” shaped the antiliberal ethos of both the far right and elements of the far left earlier in the twentieth century.
Following Banna, today’s Islamist militants embrace a terrorist cult of martyrdom that has more to do with Georges Sorel’s Réflexions sur la violence than with anything in either Sunni or Shi’ite Islam.”
Entretanto os governos europeus, confrontados com um inimigo —o Islão radical— que temem ao ponto de negar a sua existência, preferem canalizar a “indignação” para símbolos de tiranias pretéritas, não parecem ter mais a dizer sobre os neo-fascistas islâmicos do que Gertrude Stein sobre os nazis do seu tempo (homens maus, maus!...) e receiam, acima de tudo, que alguém ainda os leve a sério. Não precisam de se preocupar.
por FCG @ 12/15/2005 01:34:00 da tarde
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