7.11.05

Pluralismo e multiculturalismo

Os franceses sempre tiveram um problema: como lidar com a diferença? Existe uma incapacidade na cultura política francesa para aceitar o pluralismo. Desde o reaccionário Rousseau ao iluminista Voltaire, existiu sempre um culto pela Unidade. E essa Unidade não sabe o que fazer com a diferença. Em França, tende-se a pensar em tabula rasa. E quando se tenta a tabula rasa muitas vezes, a reacção cultural, inevitavelmente, aparece. A polémica do véu é apenas a última prova da incapacidade francesa para lidar com uma sociedade plural.

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O multiculturalismo aprisiona o indivíduo numa dada comunidade. Os jovens nascem em dada comunidade e são “convidados” a ser apenas membros daquela comunidade. É por isso que Todorov fala em demência identitária. O multiculturalismo é uma tremenda falta de respeito pela liberdade, pela a agência dos indivíduos. O multiculturalista no XXI, tal como o romântico no XIX, quando olha para um indivíduo vê apenas um membro de qualquer coisa. E esta cultura politicamente correcta (atenção, uma invenção mais americana do que francesa; aliás, os melhores críticos do multiculturalismo são franceses) arranca aplausos nas TV’s (só uma pergunta: os repórteres da RTP fazem informação ou ideologia?) e nas escolas de currículo único.
Henrique Raposo, N'O Acidental (via Descrédito)