Patriotismo de polichinelo
À medida que os efeitos da globalização ganham forma, assiste-se por parte da esquerda, a um crescente apanágio das virtudes nacionais. O processo só não tem graça porque demonstra a pobreza de espírito daqueles que o subscrevem. Há cerca de vinte anos, Miguel Esteves Cardoso fez juras de amor à maçã reineta portuguesa e foi considerado um tolo. Eram os tempos das vacas gordas (perdão) dos fundos comunitários. Actualmente quando os empregos escasseiam e a resposta já não se encontra nos dinheiros de Bruxelas, o nacional é bom. A esquerda foi universalista quando o universalismo era socialista. Agora que este é capitalista, ela é patriota.
Esta conversão não só revela, pelas razões referidas, pobreza de espírito, como contém uma certa fragilidade. É que o pretenso patriotismo da esquerda não assenta na defesa dos interesses do nosso país, mas na conveniência de alguns privilegiados, cujas benesses se encontram em risco. Não suporta a ideia de interesse nacional e é incapaz de considerar uma política que vise aumentar o nosso poder de intervenção no mundo, como maneira de, aproveitando-se das vantagens da globalização, nos trazer benefícios. Bem dissecado, o patriotismo da esquerda não vela por Portugal, mas pelos proveitos do Estado social que esconde os seus protegidos.
por André Abrantes Amaral @ 11/16/2005 11:39:00 da manhã
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