Esquizofrenia e falta de humildade
Começo por assinalar, como já o fiz anteriormente, que a minha posição sobre a matéria, contrariamente a muita gente à direita, é que tanto o conservadorismo como o liberalismo são ideologias, subscrevendo, grosso modo, as razões apresentadas por Erik von Kuehnelt-Leddihn (lamento, meu caro CN...).
Isto dito, parece-me ridículo que que uma afirmação como a do Hélder provoque reacções quase histéricas.
Não é, em substância, uma discussão que me interesse particularmente mas como me desagradou a forma deselegante e algo infantil como a questão foi colocada, e como me incomodam as tentativas de linchamento (mesmo quando feitas de forma trapalhona como é o caso) não posso deixar de clarificar alguns pontos.
O pensamento conservador, como mesmo uma análise sumária de Russell Kirk ou Michael Oakeshott permite concluir, sempre rejeitou em muitas das suas manifestações o conceito de ideologia. Se duvidam, resta-me fazer como o Henrique Raposo e recomendar a leitura (ou releitura) de Kirk e Oakeshott.
Quanto aos liberais, e para não ir mais longe, cito Mario Vargas Llosa (alguém que respeito mas de quem discordo em vários assuntos, incluindo este):Because liberalism is not an ideology, that is, a dogmatic lay religion, but rather an open, evolving doctrine that yields to reality instead of trying to force reality to do the yielding, there are diverse tendencies and profound discrepancies among liberals. [bold meu]
E qual é a opinião do Tiago Mendes sobre este texto onde se afirma explicitamente que o liberalismo não é uma ideologia?
Segundo os comentários no excelente A Arte da Fuga, a opinião do Tiago é favorável e não consta que na altura se tenha referido à revelação de novos segredos de Fátima.
Deixo ao Tiago a simplificação para um esquema analítico apropriado deste comportamento aparentemente esquizofrénico e ao João a investigação sobre as causas emocionais profundas.
No caso do Tiago Mendes, acredito que tenha sido induzido a este exercício aparentemente esquizofrénico pelas circunstâncias e pela sua inclinação para as definições esquemáticas e os silogismos mas já no caso do João Galamba custa-me sinceramente a crer que ele não esteja a par da longa controvérsia em torno do conceito de ideologia que, à direita, desde há muito se desenrola. Um pouco de humildade é quanto basta para evitar fazer figuras tristes e quando isso não é possível não há nada melhor do que sermos confrontados com as nossas próprias limitações.
Pela minha parte, porque não tenho a paciência do João Miranda (todos temos os nossos defeitos e este é um dos meus), está tudo dito relativamente a esta matéria. Ficam os donos do apito com a última palavra. Que lhes faça bom proveito.
Because.
por André Azevedo Alves @ 11/28/2005 12:39:00 da manhã
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