Votar Cavaco Silva
Entre 85 e 91, Cavaco Silva foi o actor principal da ruptura que Portugal necessitava. Entre outras coisas não menos importantes, com Cavaco como Presidente, o PSD:
1. Recusou-se a continuar no Bloco central;
2. Não foi alheio á dissolução da AR por Soares;
3. Reformou o Sistema Fiscal;
4. Iniciou as privatizações;
5. Abriu a Comunicação Social e o Ensino aos privados.
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Aparentemente e dentro das suas convicções de social-democrata, tinha uma ideia para o País e fez uma opção clara: que este se desenvolvesse suportado no que considerava fundamental e de que Portugal estava mais carenciado, que eram as infra-estruturas e a educação. Quis também que esse desenvolvimento se processasse sem grandes choques (comparar o desemprego em Espanha nesses anos que chegou a rondar os 24%). Em 1985 ainda eram nove horas de carro de Lisboa a Bragança, a A1 (única auto-estrada) ia do Porto a Coimbra e de Lisboa a Aveiras, não havia nenhuma espécie ou possibilidade de formação académica fora do sistema público (excepção feita à UC e um ou outro colégio de cariz religioso) e formação profissional eram duas palavras de que ninguém tinha ouvido falar. Em 1984 e de acordo com os boatos da época foram admitidos nas Universidades Públicas cerca de 17% dos candidatos. É fácil esquecer que em 84 não havia Jornal, Rádio, Televisão, Banco, Companhia de Seguros, Transportadora, Universidade (excepto a UC), etc. que não estivesse sob tutela do Governo. Não é pré-história, foi há vinte anos. Foi Cavaco que criou inclusive alguns dos seus inimigos (O Independente e a SIC, por exemplo). O que Cavaco Silva fez entre 87 e 91 equivaleria a criar-se um sistema económico e social Hayekiano entre 2005 e 2010.
Há uma semana, o agora candidato a PR dizia: “Não me resigno”. O problema é que aquilo a que ele disse que não se resigna são efeitos, não são causas. Não se resigna ao pessimismo, ao atraso, à estagnação económica, à frustração, à pobreza. E às causas, resigna-se? Na apresentação da candidatura disse: “Os portugueses conhecem-me, sabem que sou um social-democrata”. Ora não é disto que precisamos, mas sim de outra ruptura no mínimo tão radical como as que ele próprio protagonizou de 85 a 91. O regime está falido e apesar dos fantasmas socialistas da sociedade de mercado, do neo-liberalismo, do pensamento único e do papão globalizador, precisamos de quem explique às pessoas o que é a Globalização e que opções têm. Não precisamos de mais do mesmo. Não precisamos de quem compreenda as aflições dos funcionários, precisamos de quem não tenha medo de lhes dizer a verdade.
Posto isto votarei Cavaco Silva? Numa de duas condições:
1. Se houver a mínima hipótese que um dos outros candidatos ganhe;
2. Se os apoiantes dos outros candidatos continuarem como até aqui, a tentar por todos os meios agitar fantasmas e denegrir alguém que me merece o máximo respeito.
De resto não tenho ilusões que com Cavaco ou sem ele, estamos em fim de regime e mais dia, menos dia alguma coisa má irá acontecer.
por Helder Ferreira @ 10/26/2005 04:16:00 da tarde
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