A Campanha do Argus
Na Sic Noticias foi apresentado o lançamento do livro “A campanha do Argus”. Versa sobre a pesca do bacalhau e é um documentario encomendado pelo regime de Salazar em 1949, que tinha como objectivo a promoção de Portugal no exterior. Procurava ressuscitar o passado navegador dos portugueses e de alguma forma parece que o conseguiu. Mas não é so isso que me traz aqui. O que me aflige é esta tendência que os media têm (neste caso responsabilidade de Mario Crespo e do seu convidado) de a qualquer obra prima (MC definiu-a assim) produzida por e dentro de um regime autoritario de direita não lhe ser atribuido valor por si mesma. Mesmo que tenha a aparente qualidade desta, é sempre propaganda, mesmo que uma “magnifica obra de propaganda”. Ha sempre um factor de menorização que acredito que não seja intencional (embora duvide), uma atitude perante o objecto, de contextualização descontextualizante (chiça que parece o EPC!), ou seja situa-se no tempo e no contexto em que foi produzida e transporta-se esse contexto para o presente, descontextualizando-a e estampando-lhe o anatema do costume: “Quando oiço falar em cultura, puxo da pistola”. Julgo que a frase é atribuida a Himmler e é assim que o povo bem pensante de esquerda continua a ver a atitude da direita perante a cultura. Não acreditam que seja possivel haver cultura à direita, apesar dos Vargas Llosa, Raymond Aron, Graça Moura, Revel, etc. Para a inteligentsia esquerdista, cultura e arte são feudos so seus.
O melhor exemplo destas coisas é a perspectiva mediatica de dois autores brilhantes: Eisenstein e Riefenstahl (*)
Riefensthal é: 1) Propagandista do regime nazi (carregou essa cruz até aos 101 anos !) 2) Uma brilhante realizadora;
Eisenstein é: 1) Um génio, 2)........
O esquerdismo intelectual militante não percebe (e se calhar ainda bem) que é possivel ser radicalmente contra o comunismo e ter um prazer enorme a ler Jorge Amado, Gunter Grass, Saramago ou Garcia Marquez atribuindo-lhes valor apenas e so pelo que escrevem. O prazer que nos da o Liberal Vargas Llosa é o mesmo que sentimos com o comunista Garcia Marquez. A qualidade dos romances e escritos de Soljenitsine, Ayn Rand, Orwell, Gore Vidal, Hemingway, Primo Levi ou Somerset Maugham não dependem das opções politicas que tomaram. O que menos me preocupa na pintura de Picasso é a sua ideologia politica. O génio é. A ideologia não é factor de menorização ou exaltação da arte. A arte existe antes, durante e depois da ideologia, mesmo quando influenciada por esta.
* Não sou um cinéfilo.
por Helder Ferreira @ 9/20/2005 12:07:00 da manhã
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