Ainda somos o Ocidente?
Como bem o diz o João Miranda, não é anti-americano quem critica os EUA. Da mesma forma, aliás, não é pró-americano quem elogia os EUA. O problema está na irracionalidade da crítica que leva a que não contenha o mínimo de fundamentação factual.
Por que razão a maioria das pessoas na Europa e, mais especificamente, em Portugal, caem neste fundamentalismo crítico? Por que sentem gozo quando algo corre mal nos EUA?
No meu ponto de vista são duas as explicações possíveis. Em primeiro lugar, os EUA são um país liberal. Ora, os europeus, na sua maioria e ao contrário do que Kant esperaria, não são. Os europeus nunca foram liberais. Viveram no feudalismo e dele passaram para o Estado absoluto. Até o liberalismo do século XIX foi um mero fogo de vista para inglês ver. Logo em meados do século XIX, ainda o liberalismo não tinha vingado na Europa e afastado todas as monarquias absolutas, e já estava a ser minado por homens como Marx e Engels. Da mesma forma que Matternich o via como um perigo ao seu império austro-húngaro, também Bismarck não lhe dava qualquer crédito, cuidando por apenas fazer valer o interesse alemão num equilíbrio de poder cada vez mais débil.
Tanto na Europa, como em Portugal, o pouco liberalismo que houve foi rapidamente trocado por ditaduras, umas de extrema-esquerda outras de extrema-direita. A razão deste ocorrência prende-se, acima de tudo, por os europeus pouco acreditarem na liberdade e na democracia. Hoje, depois da 2.ª GM, acredita-se um pouco mais na liberdade e na democracia, mas não o suficiente, não tanto como do outro lado do Atlântico.
Esta é a primeira explicação do ódio à América. Ela representa aquilo que a Europa nunca quis ser. Por essa razão os EUA foram criados por aqueles que, sendo europeus, aqui não queriam viver, por aqueles que recusavam aceitar a filosofia e modo de estar europeu. Podemos dizer que cá ficaram os que se agradam com o que temos.
Em segundo lugar, é preciso ter em conta que um anti-americano admira profundamente a América. Podemos até falar de uma relação amor - ódio que resulta do facto de, aqueles que não são liberais, não conseguirem aceitar o dinamismo dos EUA que é a força do liberalismo.
Qualquer europeu que odeie a América não consegue aceitar a dura realidade. A de que perdeu e que as suas crenças são falsas e que, com o nascimento do liberalismo americano, o Ocidente continuou na América e deixou, talvez, de existir aqui, neste continente velho e sem graça.
por André Abrantes Amaral @ 9/07/2005 12:07:00 da tarde
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