Atlântico (2) - João Miranda e energia nuclear
João Miranda estreou-se, em boa hora, a escrever na Atlântico com o artigo: A POLÍTICA ENERGÉTICA E A MENTALIDADE ESTATISTA. É de louvar a visão e sentido de oportunidade de Helena Matos. É aliás bem demonstrativo do triste panorama dos media nacionais que alguém como o João Miranda não tenha ainda uma posição com o destaque merecido a nível da imprensa (dita?) de referência.
Um texto patenteia o elevado nível de qualidade a que o João nos habituou e nele a argumentação a favor dos diversos subsídios à produção energética e às energias "alternativas" (não serão todas as fontes energéticas alternativas umas relativamente às outras?) é exemplarmente desmontada, quer numa perspectiva económica, quer numa perspectiva ambiental.
Fico no entanto com algumas dúvidas quanto à argumentação do João contra a energia nuclear assente na dificuldade de cobrir os riscos associados à actividade. Em primeiro lugar, porque um vasto conjunto de entidades estatais já intervém actualmente na produção de energia a partir dos combustíveis fósseis e porque é muito duvidoso que os riscos e os custos ambientais resultantes da operação dessas centrais se encontrem devidamente reflectidos nos preços. Em segundo lugar, porque o próprio problema de fazer reflectir no preço da energia "todos os factores de produção, incluindo os custos ambientais" é de aplicação bem mais complexa do que possa parecer à primeira vista. Desde logo, e sem entrar em grandes pormenores, seria necessário determinar quais os efeitos externos relevantes, como podem ser medidos e valorizados e a quem cabem os direitos de propriedade sobre os factores afectados. São questões difíceis, para as quais há várias (e frequentemente divergentes) respostas a nível teórico e prático mas que me parecem não permitir um rejeição tão liminar da energia nuclear.
por André Azevedo Alves @ 8/09/2005 01:25:00 da manhã
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