Englesismo, multiculturalismo e portugueses
No Telegraph de hoje aparece um artigo de opinião e uma notícia que me parecem poder ser relacionados e contribuir compreender como os valores tradicionais ingleses podem ajudar à existência em solo de Sua Magestade daqueles que pretendem a destruição dos mesmos.
O artigo de opinião foi escrito por Danny Kruger. Este foi candidato pelo partido conservador na mesma "constituency" que Tony Blair. Quando defendeu a "destruição creativa dos serviços públicos", o Guardian escreveu sobre o assunto e o líder conservador achou que não tinha sido politicamente sensato usar tal conceito - poderia assustar o eleitorado. Acabou por ser afastado da candidatura.
No artigo de hoje, ele procura em George Orwell um contributo para definir "Englishness". Pretende-se perceber quais os tradicionais valores ingleses e se estes ainda são relevantes, porque resultou surpreendente que fossem jovens criados em Inglaterra os autores dos atentados de Londres. O tema é corrente na imprensa inglesa.
A dada altura, Kruger escreve: In all this bile - the rich are parasites, the Left are traitors, the poor smell - we see the distinctive, fastidious Britishness of Orwell: he loved his neighbours best at a distance.
No mesmo jornal surge a notícia das buscas que a polícia efectuou no apartamento de um dos suspeitos das tentativas de atentado da semana passada. Os vizinhos do bombista comentam: Three separate neighbours of the couple whose flat was raided said their neighbour was the man pictured on the latest CCTV picture.
Temos uma sociedade que respeita a privacidade de cada um ("A man's house is his castle") e dos seus hábitos, procurando que estes não interfiram na vida dos outros.
Jose Monteiro, 32, from Portugal, who lives opposite the raided flat said that he recognised the man.
Mr Monteiro said: "I am 100 per cent, no 110 per cent sure that he is my neighbour."
Ana Christina Fernandes, 29, another neighbour, said: "That's definitely him. I'm really scared now."
Assim encontramos portugueses a viverem no mesmo edíficio que os bombistas sem se terem apercebido que no recesso do seu lar, estes preparavam as bombas. É nesta sociedade, que respeita a liberdade e os direitos individuais, que os que pretendem a sua destruição passam despercebidos e são até protegidos no respeito pela diferença cultural. Mas esse respeito não é mútuo, como se viu no caso do assassinato de Theo van Gogh e das declarações do assassino após o julgamento: voltaria a fazer o mesmo. Os bombistas de Londres, provavelmente, também.
O dilema está em como se poderá proteger essa sociedade sem destruir os valores que a significam.
por LA @ 7/28/2005 04:35:00 da tarde
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