27.7.05

Sobre o monopólio socialista do bom coração

Descobriram-no, finalmente. Ainda não sabemos bem como foi. Em Blade Runner, Harrison Ford utilizava um questionário complicado. Mas as técnicas de detecção devem ter mudado nos últimos vinte anos. Seja como fôr, a notícia parece boa: o ser não-humano que se havia infiltrado no nosso governo foi identificado, e posto na rua. Na quinta-feira, o Dr. Mesquita Machado, o autarca-mór do PS, explicou: o suspeito era “tecnicamente competente”, mas “falhava na parte humana”, “não tinha sensibilidade para o problema das pessoas”. Houve quem, ao princípio, se tivesse deixado iludir. Não foi o caso do arguto autarca. O Prof. Campos e Cunha nunca o enganou.###

Eis como os cruzados do Estado Social gostam de pôr as coisas. A política, para eles, é um confronto entre humanos e não-humanos. Os humanos são eles, os não-humanos são os outros, os descrentes e infiéis do Estado Social – como seria o caso, em segredo, do ex-ministro.

(...)

O mercado gera desigualdades? O Estado Social também. O mercado favorece os mais fortes? O Estado Social também. No Estado Social, é o poder político que, em última instância, decide da alocação dos recursos. Isso não elimina a competição entre grupos e indivíduos. Apenas a desloca de um domínio para outro: do domínio da inovação e da produtividade para o domínio da política, do lóbi, e da acção sindical. O sistema favorece quem tem meios para pressionar o poder, intrigar nos bastidores, e manifestar-se nas ruas. E não são, como é óbvio, os verdadeiramente “mais desfavorecidos” quem tem esses meios.

Onde está, portanto, a superioridade moral? Seria bom que os beatos do Estado Social renunciassem a esse deselegante costume de olhar de cima para quem não pensa como eles. O debate poderia, assim, prosseguir a níveis mais civilizados e interessantes. Perceberíamos que estão em confronto dois modelos sociais, um que assenta na decisão centralizada do poder político, e outro que deixa as decisões aos indivíduos.


(via Blasfémias)