A triste graça do 'Não'
O Rodrigo escreveu aqui um bom ‘post’ sobre o caminho comum que a Europa deveria trilhar. Muito sucintamente, tenho alguns reparos a fazer.
No entendimento do Rodrigo, a Europa deveria adoptar um rumo comum, de forma a encontrar o tão desejado progresso económico social e, naturalmente, político. Também, de acordo com o seu raciocínio, e porque a Europa é habitada por "Povos envelhecidos, que perderam a ambição de ir mais longe (...) A Europa votou «Não» ao Tratado Constitucional."
É verdade que a Europa está envelhecida (mesmo que diplomaticamente incorrecto, Rumsfeld acabou por acertar no alvo) e esse facto explica o voto no ‘Não’ em França e na Holanda. Mas também é correcto afirmar (e aqui tenho de discordar do Rodrigo) que tanto os Franceses como os Holandeses depreenderam que o voto no ‘Sim’ não era a solução. Não há nada que nos garanta ser o ‘Sim’ ao Tratado Constitucional a porta aberta para a melhoria que a Europa procura. Pelo contrário, a solução está na alteração das políticas seguidas há demasiado tempo pelas nações europeias, políticas que eram relativamente adequadas nos anos 50 e 60, mas que são completamente impróprias quando frente aos desafios do século XXI.
Os políticos europeus têm medo de mudar. Pior, mesmo que não o tivessem não sabem como o fazer. Acreditaram num Tratado Constitucional e nele depositaram as suas esperanças. Da mesma forma que o dito Tratado não é solução, enganaram-se quando pensaram que a sua aprovação seriam favas contadas. O tiro saiu-lhes, como se costuma dizer, pela culatra.
Uma coisa tem a sua graça (uma graça triste) que resulta da incompetência e da má preparação dos nossos políticos que os leva a estar à margem dos acontecimentos mundiais: Em 2001, naquele fatídico dia 11 de Setembro, cansei-me de ouvir vaticínios sobre a decadência da América. Hoje, em Bruxelas e enquanto Bush cumpre alegremente o seu segundo mandato presidencial, teme-se a desagregação da União Europeia.
A graça é triste porque, em 2001, o que se passa hoje era previsível e o aviso foi feito por algumas (poucas) pessoas sensatas. Como em tudo o que é sensato e difícil, não foram ouvidas.
por André Abrantes Amaral @ 6/09/2005 12:11:00 da tarde
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