De boas intenções está o Inferno cheio
O conceito de Estado social foi criado com a melhor das intenções. Ao recear os efeitos nefastos do indivíduo entregue a si mesmo, o Estado social foi visto como a única possibilidade de o integrar num projecto comum, não se permitindo que ‘muitos’ fossem explorados por ‘poucos’ e que alguns ficassem à mercê das vicissitudes de uma vida cada vez mais industrializada, urbana e comercial.
Lentamente, o Estado foi assumindo mais e mais funções de carácter social. Na saúde, na educação e na Segurança Social. Utilizando três armas poderosas, os poderes legislativo, executivo e judicial, foi-se substituindo às instituições intermédias, como sejam a família, a Igreja e demais outras associações cívicas.
Um dos paradoxos do Estado social acaba por ser este. Ao recear ver o indivíduo entregue a si mesmo, às suas fraquezas e contradições, destrói todas as instituições que se encontram entre ele e o Estado, elevando a pessoa humana ao expoente máximo da sua condição de ser solitário e único. Sem qualquer relacionamento associativo com os outros, nem relações de confiança entre si, o indivíduo surge como um homem só, solitário e único, num frente a frente com um Estado poderoso e tantas vezes usurpador e explorador.
O Estado social foi bem intencionado. Lembrou que o Estado tem uma palavra a dizer em matéria social, mas que o conceito tem também efeitos perversos. Na verdade, fruto deste fracasso a que diariamente assistimos, é legítimo que questionemos se, em vez de caber ao Estado assumir um papel primordial na condução das políticas sociais, não será melhor limitar-se a criar condições para que estas sejam levadas à prática por instituições de carácter privado que resultam da livre associação dos cidadãos.
Desta forma, o que há a fazer não é um ataque ao Estado social, como a esquerda tão bem gosta de fazer crer, mas às consequências nefastas das políticas por ele conduzidas.
por André Abrantes Amaral @ 6/02/2005 12:01:00 da tarde
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