O Défice no "gourmet"
Como alguém ja escreveu (não me lembro em que blogue) também eu estou a tornar-me um admirador do défice. Revela qualidades incomuns em Portugal: é persistente, tenaz, não desiste perante adversidades e governos sucessivos não o conseguem derrubar. Aguenta-se altivo e desafiador sem dar cavaco a ninguém, é um autêntico Howard Roark português, infelizmente virtual. P.S. "estado" assim pequenino é um manifesto derridiano da minha parte.
O défice por si so não me diz nada, limita-se a ser a diferença (negativa) entre o deve e haver do estado, ou seja a diferença entre as receitas e as despesas desta dona de casa irresponsavel (D.Estadina) com conta no “gourmet” da Foz (o hipermercado é mesmo ali ao lado de casa) onde põe na conta dos vizinhos 50% da riqueza produzida por estes, endivida-se e para cumulo, o jantar semanal que serve aos convivas (os vizinhos que pagam a conta no “gourmet”) vem queimado, com excesso de sal e com um aspecto pastoso e de cozinhado à pressa em micro-ondas.
Para resolver a divida e os problemas da D. Estadina, os amigos (economistas) aconselham-na a aumentar a contribuição de cada vizinho, esquecendo que estes, à custa das faustosas despesas a que a Sra se habituou (contratou criados a esmo, mordomos, acompanhantes, comprou carros, casas, viagens, etc) cada vez têm menos meios disponiveis. Assim quando ela lhes propõe aumentar a contribuição de maneira a que possa pagar as suas dividas e manter o nivel de vida, eles aceitam a contragosto mas abrem conta no Lidl pagando menos. E ela continua a ir ao “gourmet”, a divida aumenta, o défice aumenta (tem menos dinheiro disponivel porque os vizinhos estão a poupar no caviar e no pão) e um dia...suicida-se.
Moral da historia: esta ideia que aumentar os impostos indirectos ira trazer receitas imediatas ao estado parece-me extremamente perigosa e duvido que funcione.
Como empresa passo a consolidar ainda mais as cargas poupando em transportes (posso fazê-lo) sacrificando o serviço em prol de uma maior eficacia financeira com consequências imprevisiveis;
Os meus clientes (retalhistas) irão criar pressão para descontos, rapel ou descidas de preços. Com margens ja esmagadas resta-me uma solução: não atender, descer as vendas implicando menor IRC e IVA, ou atender e ser obrigado a reduzir despesas por outras vias incluindo despedimentos e reconsiderando investimentos;
Ca em casa costumamos ir em dois automoveis diferentes para o trabalho e escola. Passamos a ir so em um, implicando apenas que teremos que dormir menos 30 minutos por dia, conseguindo reduzir a despesa de gasolina (ISP) e IVA;
Dois por cento de aumento no IVA tem efeitos nas vendas a retalho. Da mesma maneira que não se sente na compra de uns chinelos, é importante por exemplo nos automoveis com os obvios efeitos tambem no IA;
Corto no tabaco (onde o aumento é quase certo) para metade;
Aumentam a taxa de 12% => em vez de quatro ou cinco vezes por mês no restaurante, vou so duas;
Etc, etc, etc
So ha uma maneira de o estado resolver o assunto: cortar despesas e o resto é conversa. Ouvi um dia destes que ha 570 Institutos e Fundações criados pelo estado, a ser verdade fechem 500, sejam quais forem que talvez funcione. Aumentando os impostos, sejam eles quais forem vão reduzir receitas. Ha muito que estamos a descer na curva de Laffer.
Se as consequências mais graves de um defice ou divida publica elevados são o aumento de juros, impostos e eventualmente inflação faz sentido acabar com ele precisamente por estas vias? Ou isto é “a dog chasing it’s tail”?
por Helder Ferreira @ 5/21/2005 12:54:00 da manhã
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