15.4.05

(o vento lá fora) partiu a janela

Salvo raríssimas excepções (já lá iremos) não são os empresários que rompem conceitos. Não é das empresas que saltam as inovações. Não são os empresários que fazem a economia: eles guiam a respectiva locomotiva.
(...)
Quem faz a economia são os grupos sociais. Nos últimos séculos consubstanciados no Estado, ou Nação. É o Estado o motor, a locomotiva, da mudança. É a política, enquanto disciplina reguladora do social, que estipula os carris da economia. São a necessidades do Estado que abrem e fecham os mercados. Não são os empresários.
(...)
No século passado todas as grandes mudanças (e médias e pequenas também, salvo raríssimas excepções associadas a mercados) sairam das necessidades dos Estados - com as guerras, uma necessidade exclusiva dos Estados, a dirigirem as mudanças.
(...)
[As] indústrias promitentes do presente e futuro, imediato ou longínquo, são todas de origem pública. Da internet às telecomunicações, das energias renováveis ao ambiente, os Estados criaram as locomotivas e os empresários vão guiá-las. Acresce que nestas quatro citadas os empresários apresentaram as suas habituais credenciais, atrasando e algumas vezes torpedeando a inovação para proteger os seus negócios putativamente ameaçados pelo respectivo desenvolvimento sadio.
Primeiro, há que distinguir invenção de inovação. Por exemplo, o martelo terá sido fácil de inventar mas só quando se encontrou um uso eficiente para este é que houve inovação!###

PQ usa o exemplo da internet para justificar a paternalidade estatal duma das grandes inovações do século XX. Contudo, durante mais de duas décadas, a rede ARPANET (a origem da internet), enquanto propriedade do Estado, teve um ritmo de desenvolvimento comparável ao sprint do caracol. Foi necessário a concorrência dos privados (a partir do ínicio da década de 90) para chegarmos onde estamos hoje. Porém, bastava-lhe, enquanto escrevia o post acima citado, olhar à sua volta. Será que os blogs nasceram de uma necessidade do Estado dar voz aos cidadãos? Terá sido o computador uma inovação estatal? Talvez seja possível encontrar os decretos-lei que definem as funções do teclado, rato, monitor ou sistema operativo...

Mas o maior erro - e o mais comum - é a falácia da janela quebrada. Bastiat desmistificou - há século e meio atrás - a crença de que a destruição de riqueza é boa para a economia. PQ, ao afirmar que "as grandes mudanças sairam das necessidades dos Estados[,] com as guerras (...) a dirigirem as mudanças", esquece os custos de oportunidade associados às acções militares: o dinheiro gasto em armas poderia ter sido aplicado para outros fins. Usando o mesmo raciocínio, há quem afirme que o tsunami no sudueste asiático é uma "oportunidade séria de expansão económica"...

Sugiro, por isso - ao PQ e a outros - a leitura da obra de Bastiat ("That Which is Seen, and That Which is Not Seen") ou o excelente livro de Henry Hazlitt ("Economics in One Lesson"), recentemente disponível online (pdf - 8 MB) e do qual passo a citar (meus destaques):

[The] broken window fallacy, under a hundred disguises, is the most persistent in the history of economics. It is more rampant now than at any time in the past. It is solemnly reaffirmed every day by great captains of industry, by chambers of commerce, by labour unions leaders, by editorial writers and newspaper columnists and radio commentators, by learned statisticians using the most refined techniques, by professors of economics in our best universities. In their various ways they all dilate upon the advantages of destruction.
(...)
They see "miracles of production" which it requires a war to achieve. And they see a post-war world made certainly prosperous by an enormous "accumulated" and "backed-up" demand.
Como disse anteriormente, um erro comum! Que, espero, não voltar a ler n' (o vento lá fora)*...