A cultura do betão e do subsídio
A Casa da Música, a forma como foi imaginada, subsidiada e vezes sem conta adiada até ontem abrir as portas comprova, a meu ver, o lastimoso estado da cultura no nosso país. Não é apenas o dinheiro, os exagerados custos que implicou, mas tudo o que esta forma de pensar e estar significa e representa. Uma dependência total do Estado por parte daqueles que, reivindicando-se porta-vozes da cultura, mais não sabem que exercer a sua actividade com ajuda dos governos.
O que encontramos não é uma cultura criativa pois, ao ser sustentada por inúmeros subsídios, acaba por ter de agradar e conquistar aqueles que (nem sabemos nós bem quem) os concedem. Antes existiam mecenas, homens ricos e poderosos que encomendavam obras a artistas que procuravam das resposta a esses pedidos. É certo, mas também é verdade que esses mecenas eram conhecidos e estavam à vista de todos. O mesmo não se passa com o Estado mecenas. A intenção até pode ser a de financiar a actividade cultural sem olhar a quem. Sucede que tal não é possível. A máquina do Estado é constituída e conduzida por pessoas, homens e mulheres, com gostos e vontades próprias que acabam por fazer, em nome de todos, a sua escolha particular. O resultado são construções megalómanas, como se a cultura nascesse das paredes e não do espírito livre de quem gosta criar.
por André Abrantes Amaral @ 4/15/2005 11:39:00 da manhã
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