17.4.05

O ideal da direita amordaçada

Em Inglaterra, a campanha eleitoral arranca. A campanha dos Conservadores aposta forte no sentimento anti-imigração. A direita, em desespero de causa, vai buscar as suas ideias à extrema-direita. Talvez por ter acompanhado o momento alto do lepenismo em França, o lema dos tories parece-me especialmente tenebroso: "Are You Thinking What We're Thinking?". Isto é Le Pen puro: "vocês sabem que eu não digo tudo o que penso sobre os pretos e os árabes e os outros; vocês, por outro lado, também não precisam de dizer a ninguém, mas votem em mim, porque eu penso o que vocês pensam". Além de oportunista, cobarde e desonesto.
Da leitura do texto do Rui Tavares, a única interpretação possível é que os adjectivos "oportunista, cobarde e desonesto" se referem ao slogan (e à orientação da campanha) do Partido Conservador. Ora o facto é que estes insultos, como o próprio Rui Tavares acaba por reconhecer implicitamente no seu mais recente post sobre o assunto, assentam num juízo de intenção, nomeadamente o de que o slogan conservador visa ocultar um tenebroso discurso xenófobo. Como não é apresentada qualquer fundamentação para essa conclusão (a menos que ser contra a imigração descontrolada seja evidência de xenofobia), parece-me que só é possível qualificar as acusações que o Rui Tavares (juntamente com a imprensa britânica e os pundits da sua preferência) fazem como um grosseiro juízo de intenção e os insultos que formulam a partir desse juízo precisamente como insultos gratuitos que são.

No seu novo post, o Rui Tavares aproveita para tecer uma série de considerações adicionais sobre Ed Matts (cujas acções, como pode ser facilmente comprovado pela leitura dos meus posts anteriores, nunca defendi) e para proceder à exposição da sua teoria sobre o sucesso de Jean-Marie Le Pen, Bruno Gollnisch e da Front National em geral. Como não me referi sequer à FN nem era esse o tema que suscitou a discussão, não tenciono comentar as apreciações do Rui Tavares sobre a mesma. Limito-me a constatar a ironia de ver um apoiante de um partido extremista e fracturante como o Bloco de Esquerda a criticar quem quer que seja por usar o innuendo para, supostamente, fazer passar de forma camuflada uma mensagem radical. Mas, em abono do Rui Tavares, é justo reconhecer que, tanto a tirania do politicamente correcto como o newspeak são, desde há muito, instrumentos privilegiados da extrema-esquerda para intimidar os seus adversários e fazer avançar a sua agenda totalitária. Assim sendo, não tenho qualquer dúvida de que o que ele escreve é muito bem pensado.