29.3.05

A Velha Europa treme

O último Conselho Europeu vai por certo ficar na história da União Europeia. E os seus principais protagonistas, Chirac e Schroeder, o tristemente famoso eixo Paris-Berlim, serão, com certeza, lembrados num futuro próximo como os verdadeiros carrascos de uma Europa livre, moderna e capaz de responder positivamente aos desafios do século XXI.

Os senhores do eixo Paris-Berlim começaram por tentar iludir os cidadãos europeus com o enorme fracasso da famosa Agenda de Lisboa, que, entre outras falácias, falava num desenvolvimento económico comparável ao dos Estados Unidos em 2010. Ao contrário do prometido, nestes últimos cinco anos aconteceu exactamente o contrário. O fosso entre a Europa e os Estados Unidos aumentou e continuará a aumentar com as decisões catastróficas do Conselho Europeu, com ou sem os patéticos senhores Lisboa que os 25 Estados irão nomear com a habitual pompa e circunstância.

###Em primeiro lugar, a revisão do Pacto de Estabilidade e Crescimento, imposta por Paris e Berlim e estupidamente saudada por alguns líderes europeus, entre os quais os portugueses Durão Barroso e José Sócrates. O laxismo das contas públicas e o descontrolo orçamental, agora com a benção de Bruxelas, servem apenas para esconder por mais algum tempo uma realidade dramática e sem retorno a falência total dos actuais modelos sociais, o fim inevitável dos Estados-Previdência, a derrocada total de uma Velha Europa que se recusa a encarar de frente a realidade e não tem coragem para rapidamente e em força abrir a porta às reformas indispensáveis e urgentes, muitas delas necessariamente dolorosas, na segurança social, na saúde, no trabalho e na administração pública.

Se a revisão do Pacto é má para todos os cidadãos europeus, será dramática para Portugal e irá atirar para o caixote do lixo os tímidos arremessos reformistas dos últimos anos. O programa plurianual de redução da despesa corrente, prometido pelo Governo socialista para Setembro, a um mês das eleições autárquicas, vai ser, sem dúvida alguma, a melhor prova da desgraça anunciada com esta criminosa revisão, melhor, liquidação do Pacto de Estabilidade e Crescimento.

Mas a Velha Europa enterrou-se ainda mais com o veto de Paris e Berlim à livre circulação de serviços. Chirac e Schoeder tremem com a Nova Europa, com o seu dinamismo político e económico. Agitam espantalhos, como o dumping social, para esconder a falência das suas políticas, dos seus projectos. A Velha Europa, caquética, não tem futuro. E no seu desespero atropela tudo, até a liberdade.