O Papa, a velhice e a Igreja
João Paulo II não foi apenas o Papa polaco que contribuiu em muito para a derrocada do comunismo, foi também, logo após o derrube do muro de Berlim e da derrocada da URSS, o primeiro a chamar a atenção para a necessidade de não se acreditar nos totais benefícios do capitalismo, ou melhor, do capitalismo sem qualquer fundamento ético.
O Papa sempre afirmou que o amor ao próximo é algo que deve estar presente na nossa natureza humana. O mercado pode ser livre, as pessoas podem mudar de empregos, lutar para ganhar e viver melhor, mas nunca se devem esquecer aqueles que, devido aos infortúnios da vida, não conseguem mais que a pobreza. Concorde-se ou não, este ponto de vista está sempre presente na nossa sociedade.
Sempre existirão ricos e pobres, mas sempre deve existir a solidariedade para que todos, com trabalho digno, consigam dignificar a sua vida.
João Paulo II não foi apenas o mais progressista Papa de sempre no que diz respeito à aproximação da Igreja Católica com as outras religiões. Wojtyla rezou em mesquitas, em templos anglicanos, visitou o Muro das Lamentações, em Jerusalém. Foi também um Papa que procurou um contacto sempre próximo com as pessoas comuns.
Sem dúvida que tem tido posições com as quais (e falo por mim) podemos discordar, tais como a moral sexual e a não ordenação de mulheres. Podemos inclusive discordar (como eu discordo), com a existência de o Estado do Vaticano (enquanto entidade jurídica, soberana e independente), mas é necessário ter em conta que um chefe de uma Igreja não existe para fazer tudo o que nós defendemos e seguir tudo o que pensamos.
Vem este ‘post’ na sequência da aparição do Papa, Domingo passado, no Vaticano. Muitos viram a sua debilidade. Todos assistiram à sua força. Como não é possível quantificar a fé católica, não posso dizer que já fui mais ou menos católico. Poderei, isso sim, confirmar que já aceitei melhor a estrutura da Igreja. Eu tenho dificuldades compreender e observar certas orientações da Igreja. No entanto, no Domingo de Páscoa, foi possível separar a Igreja, como estrutura, do homem que é João Paulo II.
Muitos defendem que o Papa, por estar velho e doente, deve renunciar. Eu pergunto se a velhice e a doença são razões para desistir. João Paulo II tem tido nestes últimos anos a possibilidade de demonstrar que, na velhice e na doença, também é possível ser-se útil. Nós temos a sorte de, devido a ele, ver confirmado isso mesmo.
por André Abrantes Amaral @ 3/29/2005 10:42:00 da manhã
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