A democracia e os vizinhos da Europa
A ler a coluna de hoje de Teresa de Sousa no Público. De facto a ineficácia da Europa na promoção de reformas nos países vizinhos que ficam a Sul tem sido gritante. Os últimos desenvolvimentos têm sido conseguidos à custa da administração Bush. A conclusão de Teresa de Sousa é edificante (principalmente vinda de quem vem):O que é que a Europa pretende realmente? Estancar as vagas de imigrantes? Fazer bons negócios com os países da zona? Facilitar as trocas culturais? Ajudar a combater as redes terroristas? Apoiar a integração regional para incentivar o desenvolvimento e a estabilidade? Promover as reformas políticas democráticas? Quer tudo isto, numa ordem aleatória. Mas nunca elegeu, como devia ter feito, a questão da democracia como o objectivo central. As reformas políticas aparecem sistematicamente "dissolvidas" numa vasta e aparentemente ambiciosa lista de objectivos - qualquer coisa entre o abastecimento de água, as medidas contra o terrorismo e a igualdade entre os géneros.###
Quando a Europa perceberá que não pode comprar a sua segurança, que o dinheiro e a conversa fiada apenas são apenas um entretenimento e não a solução?
Isto não acontece por acaso. O pensamento dominante ente os europeus (acompanhado por um certo desdém pelo "primarismo" da abordagem americana) é que muita insistência na democracia acabaria por abrir o caminho para o fundamentalismo islâmico. Não é esta, porventura, a única razão. Há outras, como a velha ideia (profundamente enraizada numa certa cultura de esquerda) de que é preciso respeitar as idiossincrasias culturais desses países e entender que a democracia é um processo de muito longo prazo.
Seja como for, o resultado desta política está à vista: o Processo de Barcelona foi muito pouco eficaz, apesar dos milhões e milhões de euros e apesar dos esforços da Comissão. Isso e o que se está a passar realmente na região deviam levar os europeus a meditar nalgumas coisas. Por exemplo: que apostar no desenvolvimento sem cuidar das reformas políticas não leva muito longe. Ou que o terreno mais fértil para o fundamentalismo não é, certamente, a liberdade política e cívica, mas a ausência dela.
por Rui Oliveira @ 3/01/2005 01:04:00 da tarde
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