Democracy must be something more than two wolves and a sheep voting on what to have for dinner. - James Bovard
7.3.05
Daniel Estranho Amor
Sei apenas que a nossa vida não é propriedade colectiva. Que só há liberdade quando somos, o mais que pudermos, donos do nosso destino. E, acima de todas as liberdades na vida, a mais pessoal e indiscutível é a de decidir não viver.
…Million Dollar Baby e Mar Adentro dizem-nos o mesmo: o mais incondicional dos amores é o que deixa o outro partir. E enquanto a Igreja e o Estado quiserem regular o amor só podemos esperar o pior.
Daniel Oliveira Expresso, 05/03/2005
No meu fraco entendimento, o argumento utilizado no manifesto pró-eutanásia que o Daniel Oliveira, dirigente e assessor de imprensa do Bloco de Esquerda, publicou nas páginas do Expresso do último Sábado é o seguinte:
Eu sou livre
Ser livre implica ser senhor do meu próprio destino
Ser dono do próprio destino implica decidir sobre o momento da minha morte
maior prova de amor é deixar o outro partir
Este argumento não justifica a eutanásia.
As primeiras 3 proposições justificariam o suicídio. A última proposição justificaria que o amador não se opusesse ao suicídio da pessoa amada. Em nenhum momento se justifica que o amador ou qualquer outro agente mate a pessoa amada ou coopere no seu suicídio. O argumento falha no seu objectivo. É ineficaz.
De qualquer forma, as afirmações do Daniel, nomeadamente sobre o suicídio e sobre o amor, merecem alguns comentários adicionais.
Independentemente das ideologias ou das formulações filosóficas mais ou menos elaboradas, atentar contra a própria vida é anti-natural: Contraria a inclinação natural do ser humano para preservar e perpetuar a vida, ofende o amor que cada um deve ter a si mesmo e quebra os laços de solidariedade com o próximo (família, nação ou outras) para com quem o suicida continua a manter obrigações.
Os casos mais frequentes de suicídio têm origem no desespero de quem perdeu o sentido e o gosto de viver ou enfrenta situações dramáticas, coincidindo em geral com o agravamento de estado de depressão física e psicológica. Nestas circunstâncias, o suicida será realmente livre para escolher entre a vida e a morte?
Sobre o amor, o Daniel afirma:
o mais incondicional dos amores é o que deixa o outro partir.
Um outro autor que não tem direito a coluna no Expresso afirmou há alguns anos:
…ninguém tem amor maior do que o de quem der a própria vida pelos amigos (Jo 15, 13)
Repare-se na completa inversão de conceitos. No segundo caso, o amante prova o seu amor sacrificando a vida pelo amado. No primeiro caso, o amante prova o seu amor sacrificando a vida do amado.
CONCLUSÃO: O mais incondicional dos amores é o do candidato a suicida que se recusa a partir por amor a Deus e ao próximo.
P.S. O estado e a Igreja não querem regular o amor mas sim o assassínio.
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