7.10.06

Por que estão tão incomodados os eunucos da política?

Duas semanas depois da convenção do movimento Compromisso Portugal, no convento do Beato, em Lisboa, as ondas de choque na imprensa ainda não pararam. Há dois dias, neste jornal, foi a vez de o meu estimado colega André Freire cumprir o seu dever cívico de derramar alguma indignação sobre o que lhe deu jeito imaginar como uma missa negra de grandes patrões, e “extremistas de direita” – uma espécie de Festa do Avante do mitológico “liberalismo selvagem”. Ora, aconteceu-me ter passado pelo Beato, como outras dezenas de cidadãos que não eram necessariamente grandes patrões, e muito menos extremistas. Um dos cavalheiros que nos governam, menos dramático do que os cavalheiros que escrevem nos jornais, chamou à reunião do Beato um “colóquio”. Porque é que, duas semanas depois, esse colóquio continua a incomodar tanta gente?

(...)

Vivemos num meio que ainda aceita mal a iniciativa do cidadão independente, e que não se convenceu de que a pluralidade de opiniões e a controvérsia são indispensáveis ao dinamismo e à criação de oportunidades.

Daí a quantidade de gente que passou duas semanas à procura de um veneno para o Beato. Alguns descobriram-no, euforicamente, na severidade de um relatório do Fórum de Davos sobre a competitividade das empresas portuguesas. O Estado em Portugal foi declarado certo, competitivo e fulgurante. Quem está mal são os cidadãos, a quem não se pode confiar a gestão eficiente das suas propriedades. O que é que se vai descobrir a seguir? Talvez que as escolas públicas são excelentes, e que os alunos é que são burros. Terão os entusiastas portugueses de Davos percebido a ladeira que começaram a descer? Se não se pode confiar nos cidadãos para criar riqueza e cooperar entre si como iguais, porquê confiar neles para eleger governantes e autarcas? Alguém quer responder?"

Leitura complementar
: A confrangedora miséria intelectual da esquerda sem interesse; Os "eunucos da política".