Alterações climáticas e cepticismo económico
Aqui fica o meu artigo publicado na Dia D de 13 de Outubro.
Alterações climáticas e cepticismo económico
Na sua edição de 24 de Junho de 1974, a prestigiada revista Time alertava para a possibilidade de uma nova era glacial. Os sinais estariam por todo o sítio, desde a “inesperada persistência e grossura dos bancos de gelo nas águas que circundam a Islândia” até à migração para Sul de algumas espécies em busca de calor. Em tom de alarme, os leitores da Time eram igualmente informados de que, desde os anos 1940, a temperatura média global estaria a descer de forma substancial, assim como da existência de numerosos estudos científicos apontando para uma inequívoca tendência de acelerado arrefecimento global.
Nos dias de hoje, mantém-se o tom alarmista em torno das alterações climáticas mas o “consenso científico” anunciado é o oposto. Um conjunto de organizações político-científicas, entre as quais se destaca o IPCC (“Intergovernmental Panel on Climate Change”), alerta agora para as potenciais consequências catastróficas do aquecimento global e defende intervenções estatais imediatas para o mitigar. Perante estes alarmismos de sinal oposto, o que mais nos deve preocupar não é a flutuação dos consensos, mas as implicações drásticas que deles se pretende retirar para as políticas públicas.###
Mesmo que se admita como válido o diagnóstico do IPCC, o reconhecimento de que a temperatura média no planeta pode estar a subir em consequência da acção humana não justifica, por si só, a tomada de medidas extremas para tentar mitigar esse aquecimento. Em geral, as medidas preconizadas para esse fim requerem investimentos significativos e impõem custos de oportunidade que não devem ser ignorados. Sendo os recursos disponíveis para enfrentar as necessidades humanas limitados, é necessário fazer escolhas, que são intrinsecamente económicas. Só é justificável aplicar uma determinada medida para a mitigar o aquecimento global se, para além de a mesma ser eficaz, apresentar também uma relação de custo-benefício que a torne preferível a acções alternativas que deixam de poder ser executadas pelo facto de essa medida ser posta em prática. A noção de custo de oportunidade e a ideia de que é necessário estabelecer prioridades são quase sempre altamente impopulares, mas nem por isso menos verdadeiras.
A forma como a análise económica das decisões pode permitir formular uma perspectiva mais sóbria sobre o que fazer em relação às alterações climáticas é ilustrada pelas conclusões do Consenso de Copenhaga 2004. Este estudo, coordenado por Bjørn Lomborg, reuniu um grupo de prestigiados economistas (incluindo os nobelizados Robert Fogel, Douglass North, Thomas Schelling e Vernon Smith) com o propósito de analisar qual a melhor forma de gastar 50 mil milhões de dólares destinados a aumentar o bem-estar global e, em especial, o bem-estar nos países em desenvolvimento. Depois de analisados um conjunto de projectos, o painel considerou que as soluções propostas para combater as alterações climáticas (incluindo o Protocolo de Quioto) constituiriam as piores aplicações de recursos de entre todas as alternativas consideradas.
Acresce que há razões ainda mais significativas para se estar céptico quanto às políticas intervencionistas propostas para combater as alterações climáticas. Nesta, como na generalidade das áreas, a concessão de poderes de intervenção alargados a entidades políticas ou administrativas tende a estrangular a inovação e a aumentar exponencialmente as possibilidades de actuação de grupos de interesse minando o funcionamento da economia de mercado. Em suma, o que mais importa – quer esteja em causa o arrefecimento ou o aquecimento global – é impedir que decisões economicamente irracionais ponham em causa o mais importante recurso de que a humanidade dispõe para enfrentar a incerteza do futuro e promover o desenvolvimento: o tão imprescindível quanto incompreendido capitalismo.
por André Azevedo Alves @ 10/15/2006 12:51:00 da manhã
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