Ainda o Grameen Bank
Existe na realidade um efeito benéfico, medido em termos de melhoria de condições de vida dos que acedem ao microcrédito? Se existe, é igual em zonas urbanas e rurais?
Os bancos e entidades financeiras são acusados de predadores e de não concederem crédito aos mais pobres, porque estes não podem fornecer as garantias exigidas. Nesse sentido são condenados por aqueles que não lhes querem emprestar dinheiro (como se alguém fosse obrigado a fazê-lo) à manutenção na pobreza, surgindo os promotores do microcrédito como altruístas desinteressados e opositores do capitalismo (go figure).
1) Os Grameen Bank (GB)deste Mundo só podem conceder crédito porque alguém, algures, cria riqueza que permite a própria existência do GB;
2) Se quem cria a riqueza forem os próprios clientes do GB, este não faz mais que actuar num nicho de mercado, cobrando os juros suficientes que lhe permitem operar;
3) Se os seus clientes não criam riqueza suficiente para que o GB sobreviva por si mesmo, então este utiliza dinheiro que não lhe pertence;
4) Resta saber os métodos de cobrança, os prazos, as taxas e as exigências que o GB faz aos clientes.
Há outra solução, esta sim capitalista, para que os pobres das zonas rurais (onde aparentemente o GB tem mais sucesso) tenham acesso ao crédito. No livro “O Mistério do Capital”, Hernando de Soto demonstra que o problema nos países menos desenvolvidos é a falta de capitalismo, no que este pressupõe de reconhecimento do direito de propriedade como base de funcionamento. Sem tal reconhecimento, não é possível aos pobres comerciarem, trabalharem ou trocarem seja o que for, ou seja não é possível o capitalismo. Como exemplo, nas páginas 252 e 253 acerca das Filipinas e Peru, podemos observar que nas Filipinas:
57% das propriedades urbanas são informais;
67% das propriedades rurais são informais.
No Peru:
47% das propriedades urbanas são informais;
81% das propriedades rurais são informais.
Isto é nove vezes mais que o capital das maiores empresas pertencentes ao Estado filipino nos finais de 1998 e no Peru, duas vezes mais que o valor do total dos activos das mil maiores empresas privadas formais. Ou seja, o potencial de garantia de crédito se estas propriedades entrassem na economia formal (fossem reconhecidas) é maior que o PIB das Filipinas! Com outra vantagem, em vez de taxas de juro de 20% (subsidiadas) a 100% pagas aos financiadores do microcrédito, os proprietários desta riqueza que são os pobres, poderiam pagar apenas as taxas de mercado. Neste sentido, podemos concluir que os pobres estão a ser miseravelmente explorados pelo facto de não terem acesso ao capitalismo.
por Helder Ferreira @ 10/14/2006 11:15:00 da tarde
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