The socialist way
O Daniel Oliveira aproveitou a passagem do primeiro aniversário do furacão Katrina, sobre Nova Orleães, para nos relembrar os malefícios do ‘American way of life’. De acordo com o Daniel é o ‘Estado mínimo’ o maior responsável pelo atraso na reconstrução daquela cidade. Conclui ele que ‘a organização política, social e económica dos Estados Unidos deixa os pobres entregues a si mesmos.’
O Daniel está, no entanto, errado e o que sucede é precisamente o contrário.
De acordo com o Senate Budget Commitee (ver o segundo link do dia 22 de Agosto), a ajuda do governo federal para a região estimou-se em $122.5 mil milhões de dólares, bastante acima dos 22 mil milhões de dólares que saíram do governo federal em apoio às cidades de Nova Iorque e Washington, em resposta aos atentados de 11 de Setembro de 2001. Muito mais ainda que todas as outras ajudas federais derivadas dos prejuízos causados por outros furacões. O grande problema com que a América se está a deparar em Nova Orleães tem que ver, não com o pouco dinheiro disponível, mas com a sua má utilização.
Porque é que em Nova Iorque e Washington a aplicação dos fundos federais são proveitosos e em Nova Orleães não? A resposta não é fácil de encontrar porque esta não é a única comparação a ser feita. Há outra, ainda mais importante e dolorosa para a crença do Daniel.
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Várias companhias privadas, como a Val-Mart e a Home Dept, têm dado uma forte contribuição na reconstrução das áreas mais atingidas pelo Katrina. Mais: A grande parte da obra entretanto concluída foi da responsabilidade de donativos privados. Ou seja, no que se teve de esperar pelo governo federal para que transferisse verbas para o governo estadual, os diversos municípios e, por sua vez, inúmeros mais organismos e departamentos estaduais (com o inevitável ‘desaparecimento’ dos dinheiros públicos), as obras financiadas por privados foram feitas. O Estado mínimo (ao deixar actuar as forças sociais) venceu o Estado máximo que o Daniel apregoa.
Até porque o que falhou em Nova Orleães foi precisamente o Estado não ser tão mínimo quanto seria desejável. O Daniel deverá saber, melhor talvez que muitos de nós, não ser a América o paraíso liberal de outrora. Principalmente naquela região do sul dos EUA. E é precisamente porque o Estado já não é ali tão mínimo que o esforço de reconstrução não foi assim tão eficiente. Porque há um Estado ineficaz a estorvar o trabalho. Ao contrário do que o Daniel conclui, o fracasso de Nova Orleães não é do ‘American Way of life’. Se assim fosse aquela cidade teria há muito a qualidade de vida das outras cidades norte-americanas. O drama no Louisiana é o ‘socialist way of life’. A causa maior da miséria nos tempos modernos.
por André Abrantes Amaral @ 9/05/2006 10:30:00 da manhã
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