pequena fuga
O desrespeito pela propriedade é algo que só acontece aos outros
O desrespeito a que os nossos governantes votam a propriedade privada (ver por exemplo o post "Não armem barraca!" do LA aqui n'O Insurgente) acaba por reflectir o desrespeito popular análogo.
Esta semana, o Público perguntava a transeuntes se gostariam de ver mais ruas fechadas ao trânsito. Se bem recordo, as respostas eram maioritariamente favoráveis. É obvio que as ruas são domínio público, pagas com dinheiros privados-feitos-públicos, e portanto todos nós acabamos por ter uma palavra a dizer (com os efeitos conhecidos). Mas é sintomático que a pergunta não tivesse sido "Gostaria de ver a sua rua fechada ao trânsito?". Ou a rua do infantário ou escola dos seus filhos, ou a rua dos seus pais idosos, ou a rua do seu supermercado, ou do seu centro de saúde, ou as que atravessa a caminho do emprego? Por muito muitos gostássemos de prescindir do automóvel, que é um meio caro, e de viver em cidades ideais, quando chega a tomar estas decisões não hesitamos em sacrificar as opções dos outros.
Quando falamos em fechar ruas públicas ao trânsito automóvel, praticamente só uns puristas (peões incondicionais, ciclistas, amantes do transporte colectivo) defendem sistemas absoluto. Se vivêssemos num regime que proibisse ou dificultasse imensamente o uso de automóveis, por exemplo para cumprimento de um tratado internacional, mais pessoas seriam obrigadas a deixar o carro em casa, e com tempo, mais se constituiriam "puristas" contra quem tivesse a liberdade de não o fazer. Estas medidas "sociais" têm o condão de produzir fundamentalismos.
O mesmo acontece com a propriedade privada, e especialmente com património imobiliário. A imensidão absurda de limitações legais ao uso de propriedade privada leva a que as pessoas se esqueçam que a propriedade privada é por definição e natureza não-pública, e reclamem ter uma palavra a dizer sobre o assunto.
(continua)
por AA @ 9/16/2006 11:42:00 da manhã
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