2.9.06

O fim do "Indy" e a crise dos jornais

A morte de um título não é necessariamente dramática para uma sociedade. Outros nascem e se afirmam. O "Indy" apaga-se numa semana, o "Sol" nasce na seguinte. O problema é que a crise do jornalismo escrito e impresso é, infelizmente, muito mais séria e complexa do que as razões que explicam a capitulação daquele hebdomadário.

Os jornais vendem menos. Há cada vez menos pessoas a ler jornais. A qualidade média dos jornais degradou-se. O negócio corre riscos. E, na vez de lutarem seriamente pela sobrevivência, no lugar de um mais do que justificado "toque de despertar", quando se esperava ver os visados entrar numa desesperada procura de soluções, não: procuram-se culpados.

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Quem pensa que a classe está hoje pior preparada do que era é porque não pisa uma redacção de um jornal há muito tempo. Porque o problema não é falta de especialização. É a soberba. É a incapacidade de entender que o mundo mudou. De se inquietar até com o facto de serem, cada vez menos, a quantidade de pessoas que está disposta, a cada dia, tirar um euro da carteira para o ler. Pelo prazer da leitura. Pela utilidade dos seus textos.

É fácil culpar a internet e a crescente mobilidade da informação. Mais fácil do que publicar boas prosas nos jornais, escrever as notícias que devem ser dadas na internet e pensar já como pode informar para telefone móvel.

Os jornais são o primeiro "draft" da História. Mas a História não se faz só nos jornais. Se o jornalista, se o administrador e se o accionista não entendem que o mundo mudou, então caminham para o suicídio. Os leitores fogem, os anunciantes desaparecem e voltamos ao exemplo do "Independente": alguém irá nascer das suas cinzas. Não necessariamente em papel de jornal.