2.9.06

A esquerda que não quer saber

O sentido único é a marca de água de quem se diz plural. Basta ler o que tem sido escrito sobre Israel, sobre o Hezbollah, sobre o fundamentalismo islâmico, sobre Cuba, sobre os populismos sul-americanos, sobre qualquer sacerdote do anti-imperialismo.

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Durante a ofensiva israelita no Líbano, houve quem se achasse no direito de distribuir medalhas do bom esquerdismo, do verdadeiro esquerdismo, do esquerdismo superlativo. Esse policiamento vai manter-se e as esquerdas pós-comunistas tentarão fazer da esquerda um espaço cada vez mais singular, pequeno e carimbado. Não conseguirão, é certo. Mas a questão é outra. Numa das suas obras mais conhecidas, Milan Kundera considera que a pergunta não deve ser: «afinal os comunistas sabiam ou não?» Mas: «alguém pode estar inocente só por não saber?» E - acrescento eu agora - por não querer saber?