13.9.06

"Liberais por excelência", blocos e pactos

Prado Coelho revela-nos a astúcia de um conhecido escritor que, em Paris, ao ver que os restaurantes e cafés tinham indicação com fitas para as zonas de não fumadores e de fumadores, resolveu pegar numa das que dizia ”zona de fumadores”, colocando-a onde quer que se sentasse e retirando-a ao sair para servir para a próxima ocasião. E conclui: ”Mas os franceses, povo liberal por excelência, não ligavam muito à lei, e só quando alguém a invocava por motivos de saúde se sentiam compelidos a respeitá-la” (Público, 31. VIII. 06)

Fiquei triste: somos, afinal, só o segundo País do mundo com maior percentagem de liberais por excelência. Mas podemos melhorar: se em Portugal a ascensão social (em bloco central) se continuar a dar bem com a ”astúcia” e o desrespeito pela lei. Um desrespeito que a boa imprensa leva a peito e o outro ”bloco” aproveita para marchas e causas fracturantes.

Entretanto, se a perda de sentido da íntima relação entre deveres e direitos – que levou à substituição do direito a ”procurar a própria felicidade” pelo direito a ”desfrutar dessa felicidade”, a desfrutá-la, claro, à custa do orçamento público – continuar, a deslegitimação do Estado acabará por abrir caminho à ilusão de novos Pactos.