17.8.06

Günter Grass não se enganou

A onda de falso pudor despertado pela tardia revelação de Grass assume proporções pouco mais que ridículas. É de espantar que a esquerda alemã, que cobre um arco latitudinal que recobre a burguesia bem-pensante, os "ocupas", os nostálgicos da RDA mais os sempiternos ingénuos, responda com pesar e indignação à confissão amargurada do Nobel.

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Grass escolheu as SS. Tratou-se, evidentemente, de uma escolha ideológica. Ninguém o obrigou e o próprio confessa que foi a porta de fuga para se subtrair à autoridade dos pais. Nesse simples comentário diz tudo: o nazismo foi, como o comunismo, um movimento que conseguiu, com mestria, impor o poder dos jovens - da violência, do sentimento, da vontade - sobre sociedades firmemente ancoradas na autoridade. Ora, então, não é de espantar que o percurso subsequente de Grass - militante daquela esquerda roçando o comunismo - poucas diferenças apresente em relação às suas primícias. Essa esquerda e aquele tribalismo - desfiles, emoções, sonhos, cânticos, massas, anulação do indivíduo - são expressão de uma mesma estética. Grass não se enganou. Escolheu, apenas, aquilo que melhor se enquadrava na sua visão do homem e da sociedade.