6.6.06

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Em Espanha, a inflação há muitos meses que ronda os 4%, sendo que o défice externo está perto dos 9%, dois pontos acima dos valores dos EUA. Não fosse o facto de Espanha pertencer à união monetária, e Zapatero já teria sido obrigado a desvalorizar a antiga peseta e a aumentar as taxas de juro para, deste modo, evitar uma catástrofe.

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De qualquer modo, a inflação sobe porque a procura é superior à oferta. E isto aconteceu porque as condições de financiamento foram, durante muito tempo, bastante aliciantes – o que estimulou o consumo privado, com taxas de juro reais negativas –, e também porque a despesa pública superou, largamente, o que seria aconselhável para dissimular uma política monetária, que se encontra fora do controlo do governo, e que é delineada pelo Banco Central Europeu, sem que Madrid ou Lisboa possam fazer seja o que for.

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Nós, os espanhóis, temos cada vez mais dificuldade para vender os nossos produtos ao estrangeiro, é mais compensador importar bens e serviços, ou então, deparamo-nos com ambas as situações, acrescidas do perverso facto de que Espanha perdeu algum do seu chamariz do investimento estrangeiro, devido aos elevados custos de mão-de-obra e a um marco laboral bastante rígido e resistente ao tipo de reforma exigida pelos tempos que correm. Além do mais, acrescentaria um outro motivo para justificar a prostração que nos começa a invadir. Se bem que para Portugal, fomos sempre e incompreensivelmente, um país antipático, a novidade é que também nos transformámos num país inóspito para o investimento estrangeiro. Se à passividade reformista do governo, em matéria económica, unirmos os nossos delírios territoriais ou a polémica negociação com a ETA, se tivermos em conta o estado de efervescência e de divisão ideológica do país, ou se, ainda, pesarmos a nossa política exterior extraviada, não é de estranhar que os empresários tenham as suas dúvidas em relação a Espanha. Sendo assim, não deveria Portugal aproveitar esta oportunidade?