10.6.06

Combustível e lastro

O Estado somos nós.

Infelizmente para a boa-vontade e o voluntarismo do Senhor Professor, não somos. O estado são as corporações, os sindicatos, os partidos políticos, as autarquias e autarcas, os grupos de pressão económicos e outros, as grandes empresas, 597 funcionários para 271 menores em risco, Institutos Públicos, os beneficiários dos regimes especiais, a miríade de subsídio dependentes e tantos grupos e portugueses de primeira. Não é o cidadão que espera dez anos por uma sentença judicial, os doentes que sofrem e morrem nas listas de espera do SNS, os alunos doutrinados na incompetência e nas meias verdades, os contribuintes espoliados e taxados como se não houvesse amanhã, as vítimas da corrupção e desleixo dos agentes do estado, o cidadão comum que sofre na pele a prepotência e a arrogância dos que deviam zelar pelos seus interesses, os técnicos e cientistas que emigram para lugares mais respiráveis. Não caro Senhor Professor, o Estado não somos nós.###
Disse ainda que a fonte e a solução dos problemas não é o estado, são as pessoas. De tão verdadeiro, não mereceria comentário, mas não me parece que seja essa a questão. A ubiquidade do Estado, na versão de que padecemos (o estado), potencia os problemas e trava as soluções. Potencia os problemas, porque dá os incentivos para que grasse a corrupção, o clientelismo e os pequenos e grandes poderes. Suporta uma educação sectária e ignorante. Premeia os pára-quedistas e financia as clientelas. Impede as soluções porque penaliza o empreendorismo, a busca do sucesso (já suficientemente mal vista pela generalidade dos portugueses) e a criatividade, com burocracias kafkiana, uma fiscalidade absurda e a extorsão dos recursos. Os programas de apoio que evacua, promovem a “full rent dissipation” de soma nula, fazem-no refém das clientelas, fomentam o desperdício. E sim, o Estado tem um papel no progresso e no bem-estar das pessoas. Não interferindo nas decisões e protegendo os direitos individuais. No fundo que se dedique ao seu core-business e que deixe o resto à consideração dos (aí sê-lo-ão) cidadãos.
O estado é o combustível dos problemas e o atrito das soluções.