Os sinos dobram por nós
O novo eixo?
A nacionalização dos hidrocarbonetos ordenada por Evo Morales, está intimamente ligada à sua aproximação a Fidel Castro e a Hugo Chavez. O objectivo é viabilizar uma cooperação económica e militar entre os três, contra o Tratado de Comércio Livre que os EUA propõem para a região. O argumento de Castro e companhia é simples: Contra o imperialismo americano, nacionalizar, nacionalizar. É certo que os respectivos povos pagarão um preço bastante alto, mas um problema bem mais complicado pode surgir se estes três senhores encontrarem simpatias na China ou na Rússia.
###
John Mearsheimer, no seu livro ‘Tragedy of Great Power Politics’, entende que toda a grande potência anseia alcançar hegemonia regional e impedir que outros consigam feito idêntico. Assim é com os EUA que têm hegemonia no continente americano e não querem que russos, nem chineses, alemães ou quaisquer outros, sejam hegemónicos nos seus respectivos continentes. A pretensão de domínio do continente americano ficou bem expressa, pelos EUA, na célebre Doutrina Monroe, aliás só totalmente realizável quando, em 1902, Theodore Roosevelt teve meios para impedir o bloqueio que Grã-Bretanha e a Alemanha tentaram impor à Venezuela.
Se há cem anos os norte-americanos alcançaram a hegemonia no seu canto do mundo, já precisaram de todo o século XX para impedir que outras potências conseguissem o mesmo feito nos seus continentes. Assim foi com a Primeira e a Segunda Guerra Mundiais, ao derrotarem a Alemanha e o Japão. Tal sucedeu com a Guerra Fria e a capitulação da URSS que tinha procurado o domínio na Europa e na Ásia. O feito norte-americano é, aliás, único na história. De tal forma singular, que é objectivo primordial de qualquer potência emergente dar cabo dele. A ascensão da China e, possivelmente, também da Rússia, não lhes deixa outro caminho que não seja o lutar pelo fim da hegemonia dos EUA no continente americano. Para pôr termo à doutrina Monroe, o apoio a Cuba, Venezuela e Bolívia, é um bom começo, não esquecendo ainda que Pequim precisa de petróleo barato.
É muito importante ter em conta estas possibilidades, além da reacção que os países europeus irão ter quando tal acontecer. A Europa não se afastou dos EUA apenas no dia 11 de Setembro mas, pelo contrário, a aliança atlântica é que foi uma excepção. Coral Bell, no segundo número da revista ‘American Interest’, alerta para a possibilidade de a União Europeia se aliar à Rússia, como forma de contrabalançar o poder norte-americano. Uma aliança não obrigatoriamente institucionalizada, mas bem capaz de irritar Washington, de dificultar a vida a países de tradição atlântica como o nosso, mas que pode ser tentadora para quem deseja um espaço económico europeu forte, além de garantir o fornecimento de energia à Europa e enfraquecer os EUA.
São meras suposições. Naturalmente. Mas com Chaves e Morales nas más companhias de Castro, o futuro não se mostra muito risonho. Se a China (que, como mencionei, precisa de petróleo) e a Rússia se meterem ao barulho, ele será negro. O novo eixo pode colocar em risco a doutrina Monroe norte-americana. Se tal suceder, a América terá de rever as suas prioridades no mundo, criando vazios de poder facilmente preenchidos por russos e chineses. A ver vamos como tudo corre.
por André Abrantes Amaral @ 5/10/2006 11:51:00 da manhã
<< Blogue