O meu BMW
Caros amigos (todos os leitores d’O Insurgente entram nesta categoria, incluindo o Sofocleto e demais reptilianos), suponhamos que Vossas Excelências são gerentes de uma empresa e a meio do ano apercebem-se que a dita tem excelentes proveitos e que a vida, enfim, corre bem. Ficam (digo eu) perante duas opções:
Chegar ao fim do ano, declarar tudo direitinho e pagar os 25% de IRC sobre os proveitos, mais o que ao estado aprouver na partilha de lucros com os vossos sócios ou accionistas (voltarei a esta iniquidade noutro dia);
Investir, gastar, adquirir bens para a empresa, criar valor na coisa, baixando assim os proveitos, declarar tudo direitinho pagando um valor inferior no IRC e transferir a partilha de lucros para o uso de um bem.
No segundo caso, há várias opções. Considerando a desnecessidade de investir em novas instalações, material informático, viaturas comerciais ou investir num website, resta comprar acções de outras empresas e levar com a “moca” estatal mais o desconto do risco, contratar trabalhadores que no ano seguinte, se as coisas correrem pior, não podem ser dispensados, patrocinar as artes ou o desporto e esperar meia dúzia de anos até o estado considerar essa despesa nas contas, etc, etc. No fim de tudo isto perceberão que só uma opção interessa: comprar um Ferrari ou BMW 730 LD em leasing ou ALD em nome da empresa. Porquê? Porque amortizam 25% do valor do BMW por ano durante quatro anos, deduzem aos proveitos os juros pagos no leasing, todas as despesas(seguro, revisões, etc) podem ser incluidas na contabilidade da empresa, podem ainda cobrar (isento de contribuições e IRS) deslocações ao quilómetro e no fim de tudo fazem um figuraço no parque de estacionamento do LUX, especialmente se lá chegarem de chinelos e T-shirt, com Guns ‘n Roses a bombar no leitor de MP3 e três gajas boas comó milho ao vosso lado.
Dirão vocês, caros amigos (incluindo os reptilianos) “Ai o malandro! Seu bandido, novo rico, pato bravo do c*****o!”. Calma. Esta opção é a mais interessante para o bem comum. Reparem que os resultados dos anos seguintes são afectados, o que se reflecte no IRC, mas…
O BMW 730 d (gosto mais do LD) custa (PVP): 95.068,01Eur, assim:
Preço base (preço, preço, mesmo preço) – 59.658,68Eur
I.A. (imposto automóvel que reverte para o bem público) – 18.105,92Eur
Eco valor (reverte para o bem público e para o Tratado de Quioto) – 4,00Eur
Legalização e logística (pra entidades diversas) – 800,00Eur
IVA (reverte para o bem público e cerca de 10% para a sustentabilidade da SS) – 16,499,41Eur
Ou seja, não é por acaso que o estado abre este buraco no meio das regras reptilianas. É a pensar no nosso bem. Agradeçamos, portanto, por todos os BMW’s 730, Ferraris e patos bravos, sem esquecer o Audi do Santana Lopes, com que nos cruzamos na estrada. Vou ver se arranjo maneira de um dia destes comprar um 760i com propulsor a hidrogénio (à Mad Max) pensando no vosso bem estar. Agradecei-me, então, o espírito comunitarista e o altruismo desnecessário porque andar de Metro chega-me perfeitamente. Fá-lo-ei por vós, o meu BMW sera também vosso. Se preferirdes um Bentley ou um Rolls, que remédio, trabalharei para isso, pois tendes o direito à felicidade.
Dados do BMW no site da Baviera S.A..
por Helder Ferreira @ 5/03/2006 12:43:00 da manhã
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