20.3.06

Líderes, precisam-se

[Na sequência do que escrevi aqui, n'O Insurgente, e deste post do AAA, no mesmo blogue].
A França está supostamente «na rua» em protesto contra o CPE, uma fórmula contratual laboral que visa flexibilizar o acesso ao emprego e ao despedimento no início das carreiras. Protesta um conjunto de jovens (e muitos menos jovens por eles) que não confia nas suas capacidades (embora as possam até ter) e que prefere permanecer no desemprego subsidiado lutando em busca da «segurança laboral» que nenhuma empresa, hoje, está disposta a conceder sem verificar previamente se existe uma base de competências razoavelmente sólida para que se possa avançar para uma «união laboral» de maior duração. Qualquer pessoa que contrata jovens saídos das escolas politécnicas e das universidades sabe que a sua integração socio-profissional é mais longa do que a dos restantes trabalhadores que já tiveram alguma experiência: os primeiros tempos exigem acolhimento, estágio, formação profissional e integração no universo do trabalho. Só após um determinado periodo as empresas são capazes de aferir se um dado elemento tem ou não a valia desejada. Ora, perante uma legislação mais exigente, e face aos enormes custos sociais que se impõem às empresas, estas preferem nem sequer arriscar na contratação de jovens sem experiência demonstrada.
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A vertigem do «Maio de 68» ainda paira no subconsciente colectivo de parte da inteligenzia europeia, pelo que sempre que alguém se manifesta de uma forma pouco ordeira logo surgem na primeira linha políticos e jornalistas que deslindam nesses protestos motivações «românticas« e ímpetos idealistas, onde a generalidade da população, a olho nu, apenas vê desobediência civil e falta de cultura cívica e democrática. A «rua» é o local de onde certas correntes ditas «democráticas» - embora orgulhosamente «revolucionárias» - pretendem avançar da parte para o todo. Procura-se, a partir de atitudes ruidosas, extrapolar vontades, impondo soluções minoritárias à generalidade da população.

A grande dificuldade que hoje enfrentam os cidadãos de bem reside na ausência de governantes consistentes, com ideias claras, que os representem dignamente: os nossos politicos deixam-se facilmente impressionar pela «rua» e pelo ruído mediático, não compreendendo que uma parte significativa da população - a «maioria silenciosa» - poderia estar a seu lado, se fosse esse o sentido do apelo governativo.

Infelizmente, prevalece o «sound byte» e a manipulação, face ao discurso político coerente e sereno, que seja capaz de comunicar de uma forma transparente com os cidadãos.

Rodrigo Adão da Fonseca
[Publicado em stereo com o Blue Lounge]