O Rapto da Europa
É corrente, em grande parte dos discursos sobre a União Europeia, a ideia da "inevitabilidade" dos processos de integração comunitária. Sem qualquer preocupação em avaliar e explicar a necessidade dos sucessivos acordos e tratados, grande parte limita-se a explicar aos ignaros que a Europa é um paraíso no meio da "selva neo-liberal" e que, invocando a célebre metáfora da bicicleta, os países-membros devem continuadamente "pedalar em frente" sob pena de sofrerem uma queda aparatosa não havendo (como em qualquer bicicleta) a possibilidade de fazer marcha-atrás.###
Nada parece demover os euro-entusiastas. Um dos temas que inflama a sua paixão é o da suposta superioridade do Modelo Social Europeu. Mesmo quando inequivocamente se demonstra que este nos está a empobrecer, acusam-nos do pecado de “economicismo”. O que interessa, dizem, são os indicadores sociais e não os económicos. Infelizmente para eles (e para nós que também por cá andamos) já houve quem demonstrasse que nem mesmo nesses levamos vantagem.
Outro "ponto de honra parece ser o projecto constitucional europeu. Apesar de colocado em repouso depois de ter sido "chumbado" na França e Holanda, são poucas as semanas em que não surgem vozes que clamam pelo recomeço dos processos de ratificação, como se este gozasse de consenso generalizado.
Uma das vozes que se destaca contra este unanimismo é a de Vaclav Klaus, presidente da República Checa. Num discurso, proferido a semana passada no Luxemburgo, Klaus defendeu que a UE deve preocupar-se mais com a remoção de barreiras à livre circulação e competição de bens, capitais, serviços e pessoas e privilegiar o modelo intra-governamental (algo que também já foi defendido por Pacheco Pereira).
Numa declaração anterior, feita em com o presidente polaco Lech Kaczynski, Klaus já havia rejeitado qualquer hipótese de recuperar o projecto constitucional e indicado que tencionava lutar contra a perda de soberania para as instituições comunitárias. É significativo que os maiores contestatários contra a harmonização comunitária sejam os antigos satélites de Moscovo que apenas recentemente recuperaram a sua autonomia.
Por coincidência, há poucos dias um antigo dissidente soviético alertava para o perigo da UE se transformar num estado totalitário.
por Miguel Noronha @ 3/14/2006 08:30:00 da manhã
<< Blogue