Subitamente em Lilliput
No final do acto anterior da Comédia Mediática Universal, os horríveis Legolândios, fazedores de Carlsberg e perpetradores de cartoons, saíram de cena. Como se recordam, a acção envolvia uma intricada trama. Os malvados loiros derramavam a sua venenosa tinta sobre folhas de papel e contaminavam a fonte da água límpida bebida pelo amistoso povo dos Turbantes, sempre pacíficos e entregues às suas práticas culturais específicas. Mas envenenados pela tinta ocidental, cometiam actos horríveis, queimando e pisando bandeiras com a cruz cristã, vindas sabe-se lá de onde.
Alguns pérfidos Legolândios aproveitavam a confusão e puxavam fogo às suas embaixadas, numa tentativa soez de culpar os pobre e pacíficos Turbantes. Estes, mal souberam dos incêndios precipitaram-se para ajudar o próximo, conforme os preceitos de um dos inúmeros profetas que reverenciam e cujo nome agora não me lembro. Infelizmente o próximo estava longe e nem os Turbantes, nem os prestimosos bombeiros, nem tão pouco os sempiternamente vigilantes polícias chegaram a tempo de evitar o pior.
A cena seguinte era muito confusa e envolvia acusações, pedidos de desculpas e desculpas que ninguém tinha pedido. A intriga adensou-se e parece que acabou tudo num jogo de futebol (estou desconfiado que o dramaturgo se terá inspirado num livro de Mário Vargas Llosa, mas não tenho a certeza).
Com uma notável eficácia, a comunicação social já montou o cenário para um novo acto. O novo acto é sombrio: somos transportados para as masmorras de Abu Grahib, onde os agentes de Adolf Bush torturam inocentes com requintes de malvadez. A acção passa-se em Bagdad, a capital de um reino outrora feliz, onde todos viviam em harmonia e adoravam o seu governante, ao ponto de passarem a maior parte do tempo a construírem-lhe palácios e a erigirem estátuas em sua homenagem.
Os cruzados de Herr Bush destruíram esta luminosa terra. Num derradeiro acto de compaixão, o amado líder abriu as portas das prisões, reconhecendo que no reino de Bagdad só havia pessoas boas. Ainda mal refeitos dos horrores da tortura, muda a cena. Agora vemos campos de concentração horríveis, que, por cúmulo da perfídia os imperialistas construíram num cantinho de uma ilha paradisíaca e sem sombra de pecado político. Tudo funciona mal, as condições são tenebrosas e as sanitas entopem frequentemente com os objectos mais inusitados.
Enquanto isso, vou de fim de semana e levo este livro para reler:
Se não tiverem mais nada para fazer, estabeleçam a relação entre o livro, a comédia e o título.
por FCG @ 2/17/2006 10:52:00 da manhã
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