A vitória de Cavaco e a direita em Portugal (2)
Na sequência do meu post A vitória de Cavaco e a direita em Portugal, o Rui e o RAF traçaram cenários bem mais pessimistas do que o meu.
Começo por dizer que concordo com praticamente tudo o que o Rui e o RAF escreveram. Existe de facto em Portugal uma longa e nefasta "tradição" de dependência crónica do Estado. Prevejo também tempos agitados para o PSD e o CDS e é inegável que falta massa crítica (acima de tudo no plano intelectual) para a afirmação de uma alternativa de direita liberal. Tudo isso é verdade. Mas quando escrevi que creio nunca terem existido condições tão favoráveis para a afirmação de uma direita liberal em Portugal, fazia uma avaliação da situação em termos relativos e não absolutos. As perspectivas hoje existentes para a afirmação de uma direita liberal são muito limitadas? Sem dúvida. Mas quando é que essas perspectivas foram, em Portugal, melhores?
Quanto ao progresso que, apesar dos bloqueios sistémicos apontados pelo Rui, se verificou a nível do contexto político geral em Portugal, permito-me citar mais uma vez Fernando Sampaio:Pese embora uma linguagem agressiva “anti-neo-liberal”, a verdade é que a concepção liberal da sociedade, das instituições democráticas, da economia, das relações humanas, e por aí fora, ganhou claramente terreno. Hoje a esquerda que conta, mesmo sem ser “blairista”, já não é marxista, anti-capitalista, estatalista, nacional e internacional populista. O que, em 30 anos, não é pouco. Não me estou a esquecer do peso actual do “politicamente correcto”, do relativismo cultural e moral, da mentalidade socialmente assistencialista”, do intervencionismo estatal na economia, etc, etc, nas opiniões públicas e nas elites políticas. Por isso é que a esquerda é maioritária. A esquerda recentrou-se. A “velha esquerda” perdeu uma guerra fundamental : a dirigida contra uma sociedade aberta e de mercado. A “nova esquerda” elegeu outras linhas de fractura com a direita e com o liberalismo (dito “neo-liberal” e “conservador”). Ao contrário do que alguns anunciaram, o confronto ideológico e político direita-esquerda continua a ser de actualidade.
O que afirmei não é que a ascensão do liberalismo em Portugal está já ali ao virar da esquina. Longe disso. Limitei-me a defender que as perspectivas limitadas de hoje são, apesar de tudo, menos limitadas do que alguma vez foram. Assim haja quem saiba (com reflexão, persistência e coragem) tirar partido delas.
por André Azevedo Alves @ 1/25/2006 07:47:00 da tarde
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