26.1.06

Vamos deixar de olhar para o umbigo

Países não ocidentais ganharam uma influência económica e militar que há muito não tinham. Para o Ocidente, que há mais de 500 anos ‘tomou’ as rédeas do mundo, será o ressurgir de uma realidade à qual se desabituou.

Claro que todos têm direito ao desenvolvimento e consequentemente ao aumento de poder. Tanto a China como a Índia (e o Japão há uns anos) têm toda a legitimidade em se afirmar perante os outros, essa abstracção na qual (desta vez) nos vamos passar a incluir. Uma coisa é certa: Não estamos habituados a que nos imponham regras. Ora, nos próximos 25 anos esta realidade vai mudar e essa mudança vai ser brutal. Os nossos pais (falo para os que têm 25/35 anos) foram os últimos cidadãos dos impérios europeus. Nós seremos os últimos da hegemonia ocidental. Eles aprenderam e habituaram-se. Nós teremos de passar pelo mesmo esforço de restrição, mas o desafio é muito mais difícil.

Para termos uma noção dessa dificuldade, façamos um pequeno raciocínio: Hoje, os EUA são o país mais poderoso. O Banco Mundial e o FMI seguem as suas orientações. Amanhã, assumindo a China o lugar cimeiro, será esta a ditar as políticas monetárias. Julgo que o simples imaginar que o custo do dinheiro está nas mãos de uns senhores em Pequim, é de deixar qualquer um apreensivo. Este é apenas um exemplo a que se junta o descontrolo nos preço do petróleo, mas serve para ilustrar o quanto vai doer.

A adaptação a este novo equilíbrio obrigará, a meu ver, a uma profunda alteração na lógica das alianças existentes. A competição será atroz porque as alianças, tendo sempre um centro em comum, poderão (em determinados casos) não ser inflexíveis e estanques, mas abertas e voláteis. Vamos precisar de muita racionalidade aliada a uma intensa imaginação.