19.1.06

Poupança e responsabilidade

De 12 países europeus, os portugueses são os cidadãos com o moral "mais em baixo", revelando-se também os mais inquietos quanto ao futuro, apesar de terem poucas intenções em poupar.(...)
Portugal é também o país onde existe menos intenção de poupar nos próximos 12 meses (3% da população), acompanhando a tendência dos países em análise, apenas contrariada pela Alemanha e pelo Reino Unido - países que registaram, respectivamente, a maior subida no moral e a menor inquietação quanto ao futuro próximo.

[via RR]
Num tempo em que se torna cada vez mais claro que a empregabilidade depende de o trabalhador encontrar no mercado (global...) quem lhe compre as capacidades e conhecimentos que oferece e que aumentam assim as incertezas sobre o valor dos seus rendimentos futuros (ou mesmo a sua existência), numa altura em que mesmo os responsáveis governamentais apontam as debilidades do financiamento do sistema de segurança social e se alarmam com a possibilidade de não poderem assegurar pagamentos futuros, comprova-se que poupar não faz parte das preocupações dos portugueses.
Até que ponto, cada um de nós, se considera responsável por si mesmo e pela sua família? Parece-me que há o sentimento generalizado que a rede de solidariedade forçada que é o estado providência, assegurará a continuação de rendimentos de todos, se o pior ocorrer (desemprego, doença,...). Este espírito de colocar nos outros, na comunidade, nos demais contribuintes, a preocupação de precaver o nosso futuro pode ajudar a explicar porque são os portugueses tão aversos a alterações no status quo do estado social. Consequentemente, também os partidos, preocupados que estão em assegura o poder "just for the sake of it", não promovem activamente a apresentação e debate de ideias que possam perturbar este sentimento de delegação de responsabilidade. Temo que os sinais de alarme trasmitidos pelos governantes, mais não sejam que justificações para aumentar a colecta (ou seja, mais impostos) que assegure a não falência das prestações sociais e a continuação do que há. Pode-se vir a perder uma oportunidade, que pelo antecipado dramatismo das sua consequências, podia servir de ponto de viragem para uma atitude de maior responsabilidade individual.