Two cheers for Mr. Kristol?
O fim da revista The Public Interest gera-me sentimentos ambivalentes. Por um lado, Kristol e os chamados neoconservadores, oriundos na sua esmagadora maioria da extrema-esquerda, deram um contributo valioso para a formação de uma esquerda civilizada, que aceita os traços gerais de uma economia de mercado e valoriza uma parte significativa da herança cultural e social do Ocidente. Simultaneamente, e apesar do pouco entusiasmo dos neoconservadores na defesa do capitalismo, foi através deles que muitas ideias liberais (no sentido clássico) e conservadoras (no sentido tradicional), acabaram por entrar na arena das políticas públicas.
Se no (decisivo) combate à esquerda radical e anti-ocidental o neconservadorismo teve um papel decisivo, já no que diz respeito ao seu efeito sobre o conservadorismo tradicional (em particular nos EUA) e sobre o liberalismo clássico o balanço é bem mais problemático. Com a aceitação do welfare state e da pesadíssima herança de Franklin D. Roosevelt, os neoconservadores podem ter posto em causa não só os legados de Reagan e Thatcher como a possibilidade de constituição a médio prazo de alternativas governativas com programas verdadeiramente reformistas no campo da direita. Por outro lado, também no campo da política externa norte-americana, o legado neoconservador é, no mínimo, duvidoso. O interesse relartivamente tardio dos neoconservadores pela política externa consubstanciou-se na fragilização do realismo (em certo sentido de matriz hobbesiana) que era tradicionalmente associado a uma visão conservadora da política externa e das relações internacionais. Este não é o local adequado para discutir em profundidade as consequências desta mudança de rumo mas é relativamente seguro afirmar que há actualmente substanciais motivos de preocupação nessa área para liberais e conservadores.
O sucesso inequívoco da Public Interest e do neoconservadorismo demonstram acima de tudo mais uma vez de forma eloquente como as ideias têm, de facto, consequências. Pela minha parte, faço votos de que os liberais clássicos e os conservadores (não neo) saibam aprender com o que de bom este exemplo de sucesso tem para oferecer. Parabéns, Mr. Kristol.
por André Azevedo Alves @ 12/27/2005 02:10:00 da manhã
<< Blogue