Perseguição fatal
Ao contrário do que julga a maioria bem pensante deste país, sempre pronta a indignar-se com a perda dos direitos da função pública, existe uma boa percentagem de cidadãos que se encontram entregues a si próprios. Pessoas que, por inúmeras e diversas razões, trabalham sozinhas. Donos do seu negócio, não têm empregados, nem sócios. Apenas uma mesa, impressora, fax, fotocopiadora e um computador que os liga ao mundo. Não há patrão, mas uma constante tensão. A incerteza no futuro sempre presente. A maioria das vezes com trabalho garantido para apenas mais três meses. Nada há além disso. Existem gratificações. Não haja dúvidas. Ganha-se melhor embora nem sempre na proporção da responsabilidade assumida. Acima de tudo, há uma satisfação em construir algo seu. Mas há fins de semana perdidos. Feriados desperdiçados. Férias interrompidas e viagens eternamente adiadas.
Tendo em conta os baixos custos que esta gente representa, os ganhos sociais são enormes. Há mais velocidade nos negócios, mais dinamismo e mais empenho. No entanto, como vê a sociedade estas pessoas? Uns meros seres que hoje têm trabalho e amanhã terão de começar tudo de novo. Desaires que se repetirão ao longo da vida até a sorte os bafejar com um ar da sua graça. A sociedade olha com pena e comiseração para estes indivíduos. Mas, não se fica por aqui. Vai mais longe. Indiferente à incerteza que caracteriza as suas vidas e às vantagens que trazem a nível comercial, cobram-lhes impostos altíssimos que afundam as suas poupanças. Pior, impossibilitam os seus investimentos. A sociedade não quer gente como esta. Não a suporta. Para ela, tentar a sorte é algo horrível, pecaminoso e atroz que deve ser liminarmente punido. O que lhes diz é isto: A vida não é dos que arriscam, mas dos espertos. Não julgues que podes ir por aí. Acaso não sigas o nosso conselho e perseguir-te-emos até ao fim.
por André Abrantes Amaral @ 11/02/2005 03:46:00 da tarde
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