O teatro político
Após leitura deste artigo de Pedro Lomba no Diário de Notícias, dei por mim a pensar se, entre os objectivos dos candidatos de esquerda à presidência da República não está precisamente o de viciar o debate presidencial. Seria muito interessante ter acesso às reuniões dos estrategas de campanha destes candidatos e ouvir o que só pode ser dito entre quatro paredes. Os apoiantes de Soares, Alegre e companhia, têm-se divertido a falar de Cavaco Silva mencionando, tanto a hipotética presidencialização do regime, quanto a patética falta de ‘cultura humanista’ do ex-primeiro-ministro. Quanto mais fantasmas forem atirados para o ar, maior a probabilidade de inexistência de debate. Esta táctica tem um interesse duplo para a esquerda. Por um lado, impede que se fale do essencial, o que passa inevitavelmente por assumir políticas que põem em causa o discurso da esquerda. É preciso ter consciência que esta pouco tem para dizer, na medida em não tem soluções. Qualquer análise fria do que querem os quatro candidatos de esquerda, é suficiente para compreender que apenas defendem o status quo que desaba aos nossos pés. Quem pouco tem a dizer, muito fala. Por outro lado, permite-lhes assumir o papel simpático (actualmente tão típico por aqueles lados) de quem quer debater, mas não pode. É uma boa estratégia para quem não tem respostas: Levanta-se a poeira, lança-se a confusão e depois, faz-se cara de espanto e dão-se uns ares de indignidade. O teatro na política é uma coisa linda.
por André Abrantes Amaral @ 11/11/2005 12:00:00 da tarde
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