15.10.05

Sobre o Nobel e os lobbies culturais

Na maior parte dos casos, há antes uma espécie de "frentismo" cultural em que toda a extrema esquerda se une informalmente para promover as bandeiras e os autores que interessam. A audiência de Chomsky, Toni Negri e, mais domesticamente, Boaventura Sousa Santos, cujas obras teóricas ninguém lê, explica-se assim. E, claro, pela preguiça da opinião pública, que aplaude sempre quem usa palavras como solidariedade internacional, capitalismo selvagem, imperialismo, multiculturalismo, etc., que nos dão o sentimento de estarmos do lado certo.###
A estratégia de osmose tem muito sucesso por duas razões. Primeiro, porque a maioria dos criadores e intelectuais é/julga ser/proclama-se de esquerda. Dizer que alguém é "de direita" torna-se assim , no meio, equivalente a "porco fascista que só pensa em dinheiro e não sabe distinguir as Demoiselles d`Avignon das santanetes". Um completo anátema. E, depois, porque a indizibilidade cultural da direita se une à eterna crença na superioridade moral da esquerda. O resultado não falha: a esquerda é culta, a esquerda tem boas intenções, tudo o que a esquerda faça para manter o seu domínio na cultura só pode ser bom porque deriva das suas boas intenções, além disso nem sequer existe direita na cultura porque a direita está toda no capital, a explorar os trabalhadores, ou a tentar chegar ao poder em partidos semifascistas.

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Às vezes o Nobel acerta: Naipaul é um grande escritor como Seamus Heaney é um grande poeta. No entanto, algo me diz que Naipaul foi premiado porque critica o fundamentalismo islâmico e Heaney porque critica tanto os católicos como os protestantes do Ulster. Ou seja, o Nobel da Literatura acaba por ser uma versão B do Nobel da Paz. Dispenso. Para lobbies culturais, prefiro os do café do Sr. Machado, ali na esquina, onde se discute se o Pinto da Costa é ou não melhor presidente que o Vieira..