27.9.05

Somos todos desiguais

Já explorei um aspecto do “pensamento criminoso” conhecido como a psicologia dos “direitos adquiridos”. Muitas pessoas – sejam ricas ou pobres – tendem a acreditar terem direito a algo em troco de nada, ou a comportar-se como se todo o mundo lhes devesse, e não o contrário.
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Somos todos iguais aos olhos de Deus. Para lá disso, porém, somos completamente desiguais. Temos diferentes dons e limitações, diferentes genes, diferentes linguagens e culturas, diferentes valores e estilos de pensamento, diferentes percursos pessoais. Na verdade, a Humanidade poderia ser adequadamente designada como a espécie desigual. Aquilo que mais nos distingue de todas as outras criaturas é a nossa extraordinária diversidade, e a variabilidade dos nossos comportamentos. Iguais? Falando apenas na esfera moral, variamos entre demoníacos e gloriosamente angélicos.
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A falsa noção da nossa igualdade empurra-nos para a pretensão de pseudocomunidade – a noção segundo a qual todos são iguais – e quando essa pretensão falha, como tem de falhar se agirmos com o mínimo de intimidade ou autenticidade, conduz-nos à tentativa de atingir a igualdade através da força: a força da persuasão suave, seguida por uma persuasão cada vez menos suave. (...) A missão da sociedade não é a de estabelecer a igualdade. É, sim, a de desenvolver sistemas que lidem de forma humana com a nossa desigualdade – sistemas que, de forma razoável, celebrem e encorajem a diversidade.

M. Scott Peck, ‘O Caminho Menos Percorrido e Mais Além’ Sinais do Fogo, Lisboa, Maio 2005.