21.9.05

Culturalismo

Chegou-me hoje por e-mail o pedido para assinar mais uma petição, desta vez dirigida à ministra da cultura. O título chamou-me a atenção: "A Cultura do Desperdício".

Confesso que tive de ler alguns parágrafos mais que uma vez. Demonstração clara da minha iliteracia. Assegurei-me que aquilo que lia era aquilo que percebia era aquilo que queriam dizer os autores da petição por assinar (frase sem vírgulas, num registo experimental).
O que peticionam à ministra da cultura? Claro, já se adivinha: mais dinheiro. Todo o dinheiro possível e outro que se imprima. Estão muito chateados e dizem, pelo menos cinco vezes, que "é inaceitável" que o ministério não tenha um plano (tipo quinquenal, presumo), não se empenhe (aqui, talvez, no sentido de colocar as jóias de família no prego) e não realize concursos (parecem gostar de competir - menos mal).
Pelos vistos, se a coisa continuar assim, desaparece a "dinâmica de criação".

Os peticionários limitam-se a exigir a manutenção de um direito adquirido: o recebimento de subsídios. À ministra exigem que lembre o ministro das finanças que lembre os contribuintes a não esquecer de contribuir com as suas contribuições impostas para os subsídios (cá está, outra frase experimental).

Os seus direitos são um dever para todos nós.
Os seus subsídios são menos rendimento dísponível para todos nós. Menos rendimento para gastar, por exemplo, em bilhetes para espectáculos por eles apresentados mas por cada um de nós seleccionados.
Os seus direitos são menos liberdade de escolha para todos nós.

Logo agora que o governo irradia confiança, surge esta descrença nas capacidades redistributivas do estado. Como é possível duvidar do culturalismo do estado socialista?