Bye-bye Marrakesch
No outro dia, ele eram grandes parangonas nos jornais com o facto de a economia ter crescido 0,5% (?!) no segundo trimestre: era só bons sinais e a retoma a caminho e mais não-sei-quê. É evidente que aquele resultado não passou de um acaso estatístico, resultante da antecipação de compras por causa do aumento do IVA, sem representar qualquer mudança conjuntural ou estrutural do comportamento da nossa economia. Ontem, saíram uns números parciais para o terceiro trimestre que mostram precisamente estar a dita cuja essencialmente estagnada, senão mesmo à beira da recessão. Curiosamente, as parangonas desapareceram. Hoje, lá vem bem escondida nas secções de economia, sem qualquer comentário, uma das mais importantes notícias económicas do ano: a Autoeuropa não vai construir o novo SUV da Volkswagen, o Marrakesch. Caso escape a alguém, a Autoeuropa representa qualquer coisa (cito de memória) entre 5% e 10% das exportações portuguesas, e o antigo Ministro das Finanças tinha dito que era essencial ao cumprimento do plano que reduz o défice a 2,8% em 2008 um bom comportamento das exportações da Autoeuropa. Pois quanto a isso, kaput. Nas previsões do Ministro, a economia também teria de crescer pelo menos 0,8% este ano, o que já se viu não irá acontecer. A isto acresciam taxas fantásticas nos próximos anos, coisa que parece igualmente comprometida. Onde estão as parangonas?
Não me interpretem mal: não há aqui nenhuma cabala de jornais e jornalistas para acentuar as boas notícias e esconder as más. O que há é um alheamento da realidade, uma efectiva vontade de ver só o que se quer ver, a espera ansiosa por notícias felizes que pareçam salvar o nosso futuro. Tal como na Alemanha, todos queremos acreditar que não é preciso mudar nada para um dia destes começarem finalmente a pingar as boas notícias. Não passa de uma ilusão. O que demonstra como o instinto conservador dos eleitorados nem sempre funciona no sentido da acção necessária.
por Anónimo @ 9/21/2005 11:47:00 da manhã
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