A escolha
As últimas semanas do governo de Sócrates têm sido mais graves para a imagem do governo do que à primeira vista poderíamos considerar. Senão vejamos. O início deste governo foi marcado com um enorme calculismo. Tudo foi previsto ao mais ínfimo pormenor, não escapando à astúcia socialista, o fazer crer que, se o combate ao défice público era fruto de uma ideologia de direita com vista a destruir o Estado Social, a fabricação de um défice virtual de 6,83% já servia de mote a convencer a esquerda da necessidade em aumentar os impostos.
Menciono aumentar os impostos, porque nunca Sócrates pensou em reduzir a despesa. Caso contrário, o seu primeiro ministro das finanças não teria sido substituído na sequencia do primeiro braço de ferro com o restante governo.
É aqui que começa a confusão socrática. O primeiro-ministro sobe os impostos porque quer salvar o Estado social, mas pretende construir um aeroporto na Ota e trazer para Portugal o TGV. Pior, pretende revitalizar a economia com os famosos investimentos públicos, financiados (necessariamente) com dinheiros dos privados. Assim sendo, o governo cai na contrariedade inevitável. Ou aumenta os impostos para combater o défice, ou aumenta os impostos para pagar as obras públicas. É isto que Sócrates nos deve explicar. Que Manuel Pinho acredite só ser possível crescimento económico com investimento público, tudo bem. Trata-se de um ponto de vista. Errado, mas de um ponto de vista. No entanto, o dinheiro é apenas um. Ele serve para cobrir o défice ou para fazer obras. Esta é a escolha que tem de ser feita. A nós, meros eleitores e financiadores do Estado social, cabe-nos exigir que o governo nos diga qual das duas será.
por André Abrantes Amaral @ 8/04/2005 04:19:00 da tarde
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