4.8.05

Convergência e inflação

Para alguns observadores, a baixa produtividade da economia portuguesa e a existência de pressões salariais geradoras de inflação devem-se ao grande peso do Estado. Sendo correcta, esta opinião fica ainda mais completa se incluir também na culpa uma parte significativa do sector privado que vive protegido da concorrência externa. O que torna o problema gravíssimo, pois em vez de o diferencial de inflação relativamente à UE ter origem no forte crescimento da produtividade no sector dos transacionáveis, ele deve-se antes a aumentos excessivos nos preços dos mais variados serviços, pelo qual todos pagam e que prejudicam particularmente a capacidade de competir do sector dos transacionáveis, contribuindo para a erosão das suas margens e a perda de quotas de mercado.###

Mas como é que se explicam os aumentos desproporcionados e continuados dos preços nos sectores protegidos? Com o mau funcionamento dos mercados. Do mercado de trabalho já tudo se disse e nada há acrescentar. Mas pouco se tem adiantado sobre a relação que existe entre a inflação e o poder de mercado nos sectores fechados de uma economia pequena, em que a influência de alguns participantes é usada para conseguir benefícios particulares e discriminar preços sem atender aos custos marginais. Em Espanha alguns estudos revelam que este é um dos factores que mais conta para a persistência da inflação acima da média Europeia. E em Portugal, será diferente? Se a rentabilidade e a repartição sectorial do investimento e do emprego, bem como as margens de lucro servem como indicadores de referência, a resposta é não.

A falta de concorrência desencoraja o I&D, trava a inovação e protege empresas ineficientes, com efeitos perversos na produtividade; poder de mercado contribui também para que a inflação em Portugal se mantenha acima dos nossos principais parceiros comerciais e prejudique a competitividade da economia. Só com uma grande exigência de mais concorrência nos sectores protegidos do exterior se pode acelerar a convergência real.