Soares/Cavaco, a herança de Sampaio
Cavaco quer ser Presidente porque é uma boa forma de continuar a governar. Só por isso ele pondera candidatar-se. Para Soares já é ligeiramente diferente. Soares quer presidir mas, ao contrário do que foi forçado a fazer entre 1985/95, conta também mandar. Basicamente, escolher os chefes de Governo, decidir se dissolve ou não a Assembleia. Presidir, no verdadeiro sentido da palavra, às reuniões. Quaisquer que elas sejam.
Tanto um como outro são, a meu ver, perigosos. Tanto um como outro fazer-se-ão valer das características dúbias do nosso sistema semi-presidencial. Um sistema não muito democrático, porque nunca sabemos o poder, o verdadeiro poder, que estamos a conceder a quem votamos.
Soares tem uma coisa engraçada. Quando se candidatou em ’85 esperava ter o poder de Eanes. Cavaco deu-lhe as voltas e venceu com duas maiorias absolutas categóricas. Agora que Sampaio restaurou o poder presidencial, o ex-presidente (o já intitulado ‘pai da pátria’) não quer perder a oportunidade com que sonhou toda a vida. O de mandar, justificando as suas ordens com um ar bonacheirão. Soares dir-nos-á que está a fazer um serviço, esquecendo-se que ninguém lhe pediu coisa alguma.
Tanto Soares como Cavaco esperam exercer a presidência da República, lidando com o Parlamento e o Governo, como se fossem peças num tabuleiro de xadrez. Tanto Soares como Cavaco são, hoje, fruto do péssimo exemplo de Sampaio que, ao destituir um governo com maioria parlamentar, desautorizou a Assembleia da República e quebrou o frágil equilíbrio que tanto tempo tinha levado para ser alcançado. As candidaturas destes dois homens, são a herança que Sampaio nos lega.
por André Abrantes Amaral @ 7/25/2005 11:52:00 da manhã
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